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terça-feira, 7 de abril de 2020

'O ENXOVAL DO BEBÊ ESTÁ EM CASA', DIZ IRMÃO DE GRÁVIDA MORTA POR CORONAVÍRUS NO RECIFE

O bebê de Viviane sobreviveu e foi encaminhado à UTI do hospital Foto: Reprodução

Anderson Albuquerque relata o parto antecipado por equipe médica para tentar salvar a vida de sua irmã, a fisioterapeuta Viviane Albuquerque, que não resistiu ao Covid-19; o bebê sobreviveu e se recupera na UTI


"Não houve nenhum tipo de despedida, nem tocamos nela, isso deixou tudo ainda mais dolorido". Anderson Albuquerque ainda busca um caminho para lidar com a a perda de sua irmã, a fisioterapeuta Viviane Albuquerque, 33, no último domingo (5). Ela se tornou a primeira gestante morta por coronavírus no Estado de Pernambuco. Estava na 32ª semana da gravidez. Seu bebê sobreviveu após uma cesariana e segue internado na UTI do Hospital Unimed Recife.
Anderson passou o dia inteiro no hospital no sábado passado (4), quando a irmã foi submetida a uma cirurgia para retirada do feto ainda de madrugada devido à piora em seu quadro. A intenção dos médicos, segundo ele, era aliviar a respiração de Viviane, o que acabou não acontecendo de imediato. Ao contrário, a situação se agravou na parte da tarde.
"Os médicos estavam numa tensão enorme. A ideia era ter mais espaço no diafragma para ela respirar melhor, mas não teve efeito logo. Precisaram colocá-la de bruço, mesmo com a ajuda dos aparelhos de respiração", contou Anderson.
Foi nesse momento que ela iniciou o tratamento a base de cloroquina. Por estar grávida, não podia tomar a medicação inicialmente. À noite, veio a notícia de que apresentara melhora. Eram cerca de 21h quando Anderson, mais tranquilo, foi para casa descansar um pouco. Na manhã seguinte, informaram que Viviane seguia reagindo bem. De repente, tudo mudou.
Anderson descansava em casa na tarde de domingo (5) quando recebeu uma ligação do ex-marido da irmã, questionando por que o hospital ligara para a mãe dela para que fosse até lá. Às 16h20, Viviane faleceu.
"Ela teve três paradas cardíacas. O pulmão tinha melhorado, mas o coração estava muito fraco, não sustentou", disse Anderson. A forma como tudo aconteceu chocou ainda mais a família já que Viviane era ativa, saudável e não tinha histórico de doença. "Ela se cuidava, ia à academia, deu até aula de pilates. Tinha o corpo resistente. Eu e meu pai que temos diabetes e hipertensão. Fiquei muito assustado", afirmou o irmão da vítima.
Viviane deixou duas gêmeas. Desde quando foi internada, as filhas estão com o pai e ex-marido da fisioterapeuta. Até o momento, elas não sabem da morte da mãe. "O pai não sabe como explicar, está conversando com psicólogo para ver como vai fazer. Elas eram loucas pela mãe", disse Anderson.
Na segunda gestação, Viviane sequer conheceu o filho. O bebê prematuro ainda se recupera na UTI, mas tem reagido bem. "A respiração dele está melhor, já está mais forte. O que minha irmã deixou foi essa criança, e agora temos essa missão", afirmou Anderson.
Ela se formaria em Direito daqui a dois meses e traçava planos para comemorar o nascimento do filho e a conquista acadêmica. "Ela já vinha comentando da festa. Estava feliz. O enxoval do bebê está em casa, tudo arrumadinho. Ontem vi as roupas lá", contou o irmão, emocionado.
Viviane Albuquerque, de 33 anos, estava grávida de 32 semanas Foto: Reprodução

O CASO

Viviane apresentou sintomas de uma gripe leve e logo começou a espirrar com frequência. Depois, passou a sentir falta de ar. De acordo com o irmão, todos acharam que tinha relação com a gravidez. Tanto que, no primeiro contato com um médico, disseram que ela não estava contaminada.
A fisioterapeuta foi internada no dia 30, mas ficou apenas em observação no quarto. Na última quinta (2), veio o resultado do teste positivo positivo para Covid-19. No dia seguinte, ela foi para a UTI.
"Até então, ela estava consiente, sem febre, estável. Ela estava recebendo até visitas, mas sem contato", relatou Anderson. Segundo ele, a irmã se comunicava diariamente por telefone, embora temesse algo mais grave. "Disse que tinha medo de morrer e pediu que minha mãe cuidasse das filhas se acontecesse o pior", contou.
Dali em diante, o quadro se agravou rapidamente. A família não conseguiu sequer prestar suas homenagens e ter o último contato. O corpo de Viviane foi cremado nesta segunda (6) em Recife. "Eu não me cuidava direito. Depois do que aconteceu, estou muito assustado, em quarentena mesmo sem ter tido contato com minha irmã. Não é só um vírus. É muito sério e muito difícil passar por essa dor", concluiu Anderson.
Fonte: Época/Rodrigo Castro

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