Sputnik Brasil conversou com o médico Sylvio Provenzano sobre a importância da terceira dose da vacina contra a COVID-19, a reabertura total da economia e as variantes do novo coronavírus.
O governo de São Paulo vai iniciar a aplicação da terceira dose da vacina contra a COVID-19 para pessoas com mais de 60 anos a partir de 6 de setembro. O reforço vacinal só poderá ser feito após seis meses da aplicação da segunda dose. Inicialmente, a medida deve atender 900 mil pessoas protegidas com a segunda aplicação de qualquer imunizante. O anúncio foi feito pelo governador João Doria (PSDB) nesta quarta-feira (25).
A coletiva do governador de São Paulo ocorreu horas depois o Ministério da Saúde ter confirmado que vai aplicar a dose de reforço a partir de 15 de setembro para idosos com mais de 70 anos e imunossuprimidos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o médico Sylvio Provenzano, ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ) e chefe do serviço de clínica médica do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), defende a aplicação da terceira dose.
"Os estudos têm demonstrado que determinados grupos, como os idosos, têm os níveis circulantes de anticorpos por menos tempo e é necessário um reforço da vacina porque o vírus continua circulando", explica.
Dessa forma, seis meses após a segunda dose, idosos e portadores de comorbidades estão praticamente sem anticorpos e precisam desse reforço, assim como os profissionais de saúde.
"Algumas características fazem com que a COVID-19 possa exteriorizar com maior gravidade, dentre elas a carga viral que o indivíduo recebe. Não por acaso muitas pessoas da área da saúde ficam com a doença na forma mais grave, porque foram expostas a uma carga viral acentuada. Por isso, é importante que esse pessoal tenha a terceira dose, para tentarmos dar alguma proteção adicional a essas pessoas que têm um risco maior se forem infectadas pelo SARS-CoV-2", comenta.
Mistura de vacinas
Estudo divulgado na terça-feira (24) em formato pré-print (quando ainda não foi avaliado por outros cientistas) revela que uma terceira dose de vacina contra a COVID-19 é recomendada para indivíduos com 55 anos de idade ou mais que foram imunizados com o imunizante CoronaVac.
Realizado pelo Instituto do Coração (INCOR) e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o estudo sugere que pessoas acima dos 55 anos que receberam as duas doses de CoronaVac poderiam se beneficiar de uma terceira dose de uma vacina diferente.
Nesta quarta-feira (25), o Ministério da Saúde afirmou que as vacinas a serem usadas na terceira dose devem ser Pfizer, preferencialmente, ou AstraZeneca e Janssen.
Sylvio Provenzano afirma que estudos mostram que, das vacinas usadas no Brasil, Pfizer e Janssen possuem maior eficácia, enquanto AstraZeneca e CoronaVac são um pouco menos efetivas. Mas com a terceira dose a proteção, independentemente de quais vacinas a pessoa tomou na primeira e na segunda dose, atinge níveis superiores a 90%.
"Por essa razão é que as autoridades sanitárias estão recomendando que, tão logo seja possível, a terceira dose comece a ser aplicada. Eu tomei CoronaVav e posso tomar a Pfizer, AstraZeneca, aquela que estiver disponível no dia. Aguardamos com a paciência dos justos, usando máscaras, lavando as mãos e tentando nos proteger da melhor forma possível."
Variante Delta e reabertura
Na semana passada, idosos voltaram ser a maioria dos internados com COVID-19 em hospitais privados de São Paulo. Em junho, pessoas com idades entre 40 e 50 anos eram o maior número entre os internados, agora 52% têm mais de 70 anos.
O ex-presidente do CREMERJ acredita que essa alta é exatamente pela ausência de anticorpos para o SARS-CoV-2 nos idosos, uma vez que a maioria foi vacinada no início do ano.
"[Eles] receberam a vacina, criam anticorpos, ficaram protegidos, pararam de adoecer. Na medida em que esses anticorpos vão saindo do organismo, sem a dose de reforço da vacina, eles não têm como ser novamente formados."
A alta de internamentos entre idosos pode estar ligada também à variante Delta, que é mais contagiosa e começa a se espalhar pelo país. O Rio de Janeiro é considerado o epicentro da variante Delta e atualmente possui 96% da capacidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para adultos do Sistema Único de Saúde (SUS) ocupados.
Nesta quarta-feira (25), a prefeitura do Rio de Janeiro recuou no plano de flexibilização das restrições de combate à COVID-19, cuja primeira fase estava marcada para começar em 2 de setembro. Não há mais data para dar a sua partida.
Por causa das novas variantes e da necessidade de uma terceira dose, Sylvio Provenzano acredita que as previsões iniciais de reabertura precisam ser revistas.
"É necessário que a gente tenha um grupo de pessoas suficientemente defendido com anticorpos para que a doença se torne mais espaça para que a gente possa voltar a ter mais segurança. As previsões iniciais que davam os meses de novembro e dezembro como uma retomada das atividades com absoluta segurança, infelizmente estavam erradas. Acho que a partir de fevereiro ou março de 2022", pondera.
O médico ressalta que o SARS-CoV-2 "veio para ficar" e para que a doença se torne menos frequente o país precisa vacinar pelo menos 70% de sua população. Por isso, ele defende que são necessárias que nova plataformas de desenvolvimento de vacinas sejam criadas, "para que a gente tenha vacinas que são seguras, mas se possível com uma eficácia ainda maior do que aquelas que estão disponibilizadas em todo o mundo".
Por fim, Sylvio Provenzano sublinha que as vacinas administradas no Brasil são seguras e que todos devem ir tomar a primeira, a segunda e a terceira dose quando a hora chegar.
"[A vacina] não confere 100% de imunidade, mas ela é segura, não oferece riscos a quem toma. A única contraindicação que existe no Brasil é para a aplicação da vacina da AstraZeneca em mulheres grávidas [...]. [A terceira dose] é muito bem-vinda e nós da área de saúde estamos ansiosamente aguardando que a gente possa tomar a terceira e pode ser qualquer vacina", conclui.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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