Rede Brasil Atual - Anunciado nesta segunda-feira (9), o novo aumento no preço do diesel nas refinarias, de 8,87%, provocou indignação dos caminhoneiros. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) afirmou que “é mais uma medida com impactos cruéis sobre a inflação”. Segundo o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, a alta “contribui ainda mais para a explosão dos preços da comida dos brasileiros”.
A inflação, que não para de subir desde meados de 2020, já corroeu um terço do poder de compra dos salários, considerando-se o período a partir de 2017. “Bolsonaro mente mais uma vez quando diz não poder mudar o PPI, política que reajusta preços de acordo com a variação do petróleo no mercado internacional, oscilação cambial e custo de importação”, diz Bacelar no site da entidade.
“A Petrobras não é forçada a utilizar o PPI”, acrescenta o dirigente, em alusão ao preço de paridade de importação (PPI) em vigor desde o governo de Michel Temer. Para ele, Bolsonaro não muda tal política para não desagradar os acionistas privados, que têm no sistema de reajuste “a garantia de altos lucros gerados pela estatal, cuja diretoria é nomeada pelo próprio presidente da República”.
De acordo com a FUP, só no governo Bolsonaro, de janeiro de 2019 até hoje, a gasolina já acumula 155,8% de aumento nas refinarias, o diesel subiu 165,6%, e o GLP aumentou 119,1%, com o preço médio do botijão de gás de cozinha acima de R$ 120,00.
Bolsonaro de 2018 vs. Bolsonaro de 2022
Apesar de Bolsonaro agora criticar a alta do preço, este não é fixado por lei, como o chefe de governo quer fazer crer, “tentando tirar o corpo fora do problema”, anota a FUP. Em artigo no Uol, o jornalista Leonardo Sakamoto ironiza: “o Bolsonaro de quatro anos atrás apoiaria protestos contra o Bolsonaro de 2022 por conta do aumento no preço do diesel. Mas o Jair de hoje terceiriza a responsabilidade para a Petrobras, como se ele ainda não fosse presidente, mas candidato à Presidência”.
Em 2018, Bolsonaro defendeu que “apenas a paralisação (que estava sendo organizada na época) poderá forçar o presidente da República a dar uma solução para o caso”, conforme disse o Bolsonaro candidato na ocasião. Em maio daquele ano, o protesto do então postulante à Presidência era contra o aumento do preço médio do litro do diesel nas refinarias de R$ 2,3488 para R$ 2,3716.
Caminhoneiro arrependido
Já a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), em nota, afirmou que “essa luta pelo fim do PPI não é só dos caminhoneiros, mas sim de toda a população brasileira, principalmente os mais vulneráveis e a classe média”. O presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, é apoiador “arrependido” de Bolsonaro. Ainda em 2018, o líder dos caminhoneiros disse que sua categoria foi “traída” por Bolsonaro e declarou, à época, que se arrependera de ter apoiado o vencedor da eleição em 2018.
Em vídeo distribuído hoje à sua base, o dirigente declarou-se “indignado” com o reajuste do diesel. “Gente, não podemos ficar quietos”, afirmou. “Nós precisamos fazer alguma coisa.”
A FUP diz que Bolsonaro é “cara de pau” ao se dizer “indignado” com a alta dos preços praticados pela gestão da Petrobras de seu próprio governo. A estatal, uma empresa de economia mista, é controlada pelo Estado brasileiro. “Sem o menor constrangimento, o presidente Bolsonaro ainda debocha da situação, ao esconder que o único responsável pelos aumentos absurdos nos preços dos combustíveis é ele mesmo”, continua a entidade.
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