Em meio a uma segunda onda de casos de COVID-19 na Europa, a plataforma Info Tracker da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), informou que houve um salto de 50% nos casos suspeitos de coronavírus na capital paulista entre agosto e novembro.
A plataforma que monitora o avanço da pandemia levanta a suposição sobre uma segunda onda da pandemia. No entanto, até que ponto se pode pensar em uma segunda onda de COVID-19 no Brasil?
Na opinião de Gonzalo Vecina Neto, fundador da Agência Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, há vários sinais de que estaríamos vivendo uma segunda onda, que ele prefere classificar como recrudescimento da primeira, pois não acredita que esta tenha acabado.
"Nós estamos vivendo um aumento de casos e do número de mortes. Isso está acontecendo no Brasil todo. Os estados que foram menos afetados, neste momento, têm um número maior de casos. Já os estados do Norte que tiveram muitos casos, estão sendo menos afetados. Há crescimento de casos em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, e no interior paulista. É preciso ter cuidado e atenção para esse recrudescimento - ou até mesmo uma segunda onda - que está ocorrendo no país", avalia o especialista.
© AFP 2020 / SERGIO LIMA
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro se reúne com apoiadores em Brasília, 23 de agosto de 2020
O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, disse nesta sexta-feira (13), durante uma conversa com seus apoiadores no Palácio da Alvorada, que o que vem sendo chamado de segunda onda é uma "conversinha", e que, caso ela realmente aconteça, deverá ser enfrentada para a economia não "quebrar de vez".
"Vocês vejam o que era antes, como eram os ministérios, tudo aparelhado no Brasil. Como estão funcionando (agora), apesar dessa pandemia que nos fez nos endividar em mais de 700 bilhões de reais. E agora tem conversinha de segunda onda. Tem que enfrentar se tiver, porque se quebrar de vez a economia, seremos um país de miseráveis", disse o presidente.
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, assinalou que, caso aconteça uma segunda onda, o governo voltará a prover assistência, mas não nos mesmos valores que foram liberados neste ano.
"Em vez de 8% do PIB, provavelmente desta vez metade disso porque sabemos que podemos filtrar agora os excessos aqui e ali. E certamente usaríamos valores menores", afirmou o ministro durante um fórum virtual promovido pela Bloomberg, segundo o jornal Extra.
Para o doutor Gonzalo Vecina, o que está sendo chamado de segunda onda no Brasil, que ele preferir classificar de recrudescimento da pandemia, é evidente e foi provocada, em grande parte, pelo relaxamento das medidas de restrição. Na opinião do professor da USP, caso não haja uma mudança de comportamento, acontecerá aquilo que já vimos no começo da pandemia: o colapso da rede hospitalar, a falta de leitos de UTI e a necessidade da realização da escolha de quem ocupará o leito.
"Infelizmente, um número importante dos leitos que foram construídos, já foram desativados. 65% dos leitos foram desativados. Os hospitais estão ficando cheios novamente, vamos ver como a pandemia vai se comportar e qual é a capacidade que os estados do país terão para recolocar os leitos à disposição da sociedade. Esta é um primeira providência", opina.
Em seguida, o fundador da Anvisa considera que os governos terão que voltar a pensar novamente na adoção de medidas restritivas para evitar o colapso do sistema de saúde.
"Ninguém quer [novas restrições], a população está cansada, mas as equipes de saúde estão 'pedindo água'. Enquanto vivíamos uma queda do número de transmissões, as equipes continuaram trabalhando intensamente. A população relaxou, as autoridades reabriram restaurantes, bares, espaços públicos, etc., mas as equipes de saúde continuaram sob estresse nos hospitais e estão próximas do limite. Não existe outra solução, para reduzir o número de casos é preciso reduzir os encontros, ou seja, ficar em casa", sentencia o especialista.
De
acordo com o jornal O Globo, nove capitais registram neste momento aumento dos casos de coronavírus. Os dados foram apurados em um levantamento do sistema InfoGripe, assinado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base em registros do Ministério da Saúde.
Segundo o levantamento, as cidades mais afetadas são João Pessoa (PB) e Maceió (AL), que registraram aumento de 95% dos casos. Em seguida, com 75%, aparecem Belém (PA), Fortaleza (CE), Macapá (AP), Natal (RN), Salvador (BA), São Luiz (MA) e Florianópolis (SC).
Para o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, os dados da Fiocruz confirmam que estamos vendo um aumento no número de casos em todo o país, um aumento que pode ser atribuído ao relaxamento, à possibilidade de as pessoas se encontrarem com o vírus, que está no ambiente, do lado de fora.
"É preciso cuidado, temos que dar um passo atrás e tomar muito cuidado para não lotarmos os hospitais", recomenda.
Para o professor da USP, se a população brasileira não quiser morrer na porta dos hospitais, é preciso reduzir a quantidade de pessoas na rua, fechar restaurantes, bares, espaços públicos, etc. Além disso, é necessário usar máscara e instalar barreiras físicas nos lugares onde as pessoas continuarão trabalhando e haverá relacionamento com o público. Se isso não for feito, ressalta o médico, será muito difícil lidar com a pandemia.
"É preciso esperar um pouco mais para retornar com as atividades, a vacina está chegando, porém, temos que chegar a janeiro e fevereiro, quando teremos condições de começar uma vacinação, pelos menos entre os profissionais de saúde e pessoas do grupo de risco", propõe o ex-diretor da Anvisa.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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