Em reunião no Palácio da Alvorada no último sábado (28), ministros pediram ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) um alinhamento de discurso sobre as ações governamentais contra o novo coronavírus.
Os ministros avaliaram com o presidente que não é hora de um novo pronunciamento e receberam a sinalização de que Bolsonaro não voltaria a falar em cadeia nacional de rádio e TV neste fim de semana, como estava sendo programado.
A avaliação feita por aliados ao presidente é que o pronunciamento da última terça-feira (24), apesar de ter conseguido mobilizar sua rede de apoiadores, elevou a fervura do campo oposicionista.
A fala, em que o presidente chamou o novo coronavírus de "gripezinha" e "resfriadinho", intensificou os panelaços pelo país e inflou um debate sobre impeachment.
O texto foi construído pelo presidente com a ajuda do gabinete do ódio, que cuida de suas redes sociais, e dos filhos dele, em especial do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
O presidente recebeu o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres e 8 de seus 22 ministros: Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Sergio Moro (Justiça), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Walter Braga Netto (Casa Civil), Fernando Azevedo (Defesa) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).
Durante a reunião, que teve duração de cerca de duas horas, ministros e presidente chegaram a um acordo sobre o tom a ser adotado pelo governo no combate à Covid-19.
Os ministros avaliaram com o presidente que é preciso maneirar no discurso por haver um distanciamento entre o que Bolsonaro e seus filhos dizem nas redes sociais e as ações propostas por sua gestão, como fechamento total das fronteiras aéreas do país para estrangeiros, isolamento social e medidas de auxílio econômico para minimizar os danos da crise.
O radicalismo foi adotado pelo presidente para inflar a militância bolsonarista. Integrantes do gabinete digital da presidência haviam detectado um enfraquecimento do discurso pró-governo nas redes sociais, onde Bolsonaro tem forte apoio.
Além do pronunciamento, o governo fez circular nas redes sociais um vídeo com o slogan "O Brasil não pode parar", que sustenta o discurso de Bolsonaro de que uma paralisação total do país para o combate à doença terá prejuízos fortes à economia.
Embora a peça publicitária não tenha sido publicada em contas oficiais do governo, ela foi espalhada na rede bolsonarista e divulgada pelo senador Flávio em suas redes.
Com a repercussão negativa, a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), que até então não respondia as demandas da imprensa sobre se tratava-se de um vídeo oficial, divulgou nota dizendo que o vídeo era um experimento.
A ação teve o resultado esperado por Bolsonaro: reascendeu a militância das redes, levou carreatas de apoio à reabertura dos comércios a algumas cidades brasileiras e diminuiu o tom dos panelaços contra o presidente.
Os ministros também fizeram um balanço de suas ações e apoiaram as medidas adotadas por Mandetta na crise.
O ministro da Saúde tem sido alvo de ataques internos da ala mais ideológica do governo, que se alinhou ao discurso de Bolsonaro contra o confinamento.
Técnicos da área ouvidos pela reportagem relataram desconforto na pasta com a tentativa recente de interferência em decisões e com declarações do presidente que minimizam o impacto do novo coronavírus, sobretudo a ocorrência de mortes - ao todo, 92 pessoas já morreram pela doença, de acordo com dados divulgados na sexta-feira (27)
Em entrevista ao Programa Brasil Urgente, Bolsonaro chegou a lançar suspeita sobre os dados oficiais de mortes por coronavírus em São Paulo, mas não mostrou evidências.
A preocupação foi levada ao presidente e chegou-se a um meio termo entre a defesa das ações que serão mantidas e as falas direcionadas às redes.
por Folhapress
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