A resposta do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) à pandemia de COVID-19 privilegia bancos em detrimento das pessoas e terá impacto de grandes proporções, avalia economista ouvido pela Sputnik Brasil.
Em março, o Banco Central (BC) prometeu até R$ 1,2 trilhão em liquidez para lidar com a crise. Uma das medidas adotadas foi a redução da taxa de depósitos compulsórios (taxa mínima que os bancos devem manter em seus cofres para garantir a estabilidade do sistema financeiro). Com isso, em tese, os bancos poderão emprestar para empresas em dificuldades criadas pela desaceleração econômica de escala global causada pela pandemia.
Contudo, o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu que os recursos liberados para os bancos ficaram "empoçados no sistema financeiro" e não chegaram à população e às empresas.
Para o professor de Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Fábio Sobral, as escolhas da equipe econômica de Guedes mostram que há uma preferência pelos setores "muito ricos" da população. Sobral pontua como exemplo da preferência que o valor sugerido pelo Governo Federal para o auxílio emergencial, hoje em R$ 600 mensais, era inicialmente de R$ 200.
"Os bancos estão seguros para suportar as quebras das empresas, mas as empresas em si não foram protegidas, inclusive aquelas que são as menores empresas, os pequenos negócios, esses estão completamente desprotegidos e, mais ainda, as camadas trabalhadoras [estão desprotegidas] porque demorou muito para sair o auxílio emergencial", diz Sobral.
O professor da UFC avalia que as filas formadas pelo país para receber o auxílio emergencial mostraram "condições desumanas" e que as políticas adotadas por Bolsonaro vão, na verdade, prolongar os efeitos da pandemia no Brasil já que simplesmente reabrir a economia não funcionará.
"O desespero pode provocar um recolhimento ainda mais intenso das pessoas. Segundo alguns economistas, boa parte do funcionamento do consumo depende de percepções e expectativas que as pessoas têm. Então se você acha que haverá uma segunda leva [de infecções], há uma séria restrição do consumo e isso tende a abalar a produção. Os efeitos são expansivos nesse caso", diz Sobral.
Crítica estrangeira
O ex-economista-chefe do FMI Maurice Obstfeld também avalia de maneira negativa as políticas brasileiras de resposta à pandemia. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Obstfeld afirmou que a economia brasileira deve cair ainda mais do que os 5,3% previstos pelo FMI.
"A resposta desdenhosa do presidente Bolsonaro à doença vai custar caro ao Brasil, tanto em termos de vidas como de renda. Com uma liderança apropriada, o Brasil claramente teria a capacidade de salvaguardar a saúde das pessoas, mas agora é uma área de alta incidência na América Latina. Isso não protege a economia, pelo contrário", afirmou o ex-economista-chefe do FMI.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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