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sexta-feira, 15 de maio de 2020

PIB desmorona e política de Guedes ficará em 'sinuca de bico' após epidemia, prevê economista




Com queda do PIB em função do coronavírus, governo ficará dividido entre "necessidade" de "expansão de gastos" e liberalismo de Paulo Guedes, disse à Sputnik Brasil a economista Esther Dweck.

Estimativa do governo anunciada nesta semana aponta uma queda histórica do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,7% em 2020. A projeção anterior, de março, era de alta de 0,02%.
Além disso, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), considerado uma prévia do PIB, registrou uma queda de 5,9% em março em comparação com o mês anterior.
Para Dweck, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ), a estratégia para mitigar os efeitos da crise do coronavírus passa por políticas de transferência de renda para a população e de crédito para empresas, assim como ajuda para estados e municípios.
Medidas que, se fossem propostas antes da epidemia para a equipe ultraliberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, seriam rapidamente rechaçadas.
"O governo vai estar numa sinuca de bico. Por um lado, vai perceber a necessidade de fazer algum tipo de medida de retomada da economia, o que significaria a expansão dos gastos. Por outro, existe a pauta pela qual o governo foi eleito, bastante liberal. E o governo depende do Guedes para se sustentar, porque ele é parte do apoio que o governo tem para aplicar reformas [como da Previdência, por exemplo]", afirmou a especialista.

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Caminho do ajuste fiscal

Ao chegar à encruzilhada, Dweck aposta qual caminho o executivo irá escolher.
"Umas das coisas mais graves anunciadas pelo Guedes é que para sair da crise vamos precisar de mais reformas, reformas que na verdade destroem todos os instrumentos que temos de desenvolvimento", disse a coordenadora do Grupo de Economia do Setor Público do IE-UFRJ.
Além disso, ela lamenta que a equipe econômica do governo tenha se comprometido com a "retomada, a partir do ano que vem, da Emenda Constitucional nº 95", que estabeleceu um teto de gastos públicos durante 20 anos.
O limite imposto pela lei, que segundo críticos praticamente congelou o investimento público em áreas como saúde e educação, está sendo inevitavelmente furado pela situação de calamidade gerada pela pandemia.
De acordo com Dweck, esse caminho "vai trazer uma crise econômica forte" e a perda de "apoio" ao governo, o que pode levar Guedes a deixar seu cargo, seja por "conta própria" ou porque a situação ficou "insustentável".
A especialista, que discorda "totalmente da ideia de que a economia brasileira estava decolando" antes da crise do coronavírus, devido à estagnação do "PIB per capita" e por apostar numa "ideia errônea" de que o ajuste fiscal traria por si só um boom de investimento, coordenou estudo com três cenários pós-epidemia.

Três cenários após a pandemia

No mais otimista, o relatório prevê queda pouco maior de 3%, no intermediário e no pessimista, para ela os mais prováveis, as projeções são de queda de 6% e 11%, respectivamente.
"Os três panoramas envolvem tanto fatores domésticos quanto externos. Em parte, o próprio governo vai determinar o tamanho dessa queda. Nos fatores domésticos, por um lado, o que mais conta é ter um isolamento social bastante eficaz, o que reduziria o tempo de isolamento, o que não é o que esta acontecendo hoje. Por outro, são as politicas de mitigação dos efeitos econômicos por meio da transferência de renda para a população e garantias de créditos para as empresas, além da transferência de recursos para estados e municípios", disse. 
Já o economista Milton Pignatari, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que a economia brasileira "estava em um processo de tentativa de recuperação", que embora fosse lento, era "sólido".

© FOLHAPRESS / FUTURA PRESS
Centro histórico de São Luís, no Maranhão, vazio devido ao lockdown decretado em função do coronavírus
Porém, a crise do coronavírus provocou uma "desestruturação", que fez a "retomada" ir por "água abaixo". Segundo ele, a situação "revela que nossa economia ainda é uma economia frágil".

Guedes 'mantido' e 'forte'

Pignatari julga que "é muito difícil saber o que vai acontecer, o caminho da economia está incerto", mas certamente "a expectativa de retomada vai ser prejudicada pelo endividamento da economia, pois as empresas vão se endividar mesmo com todos os benefícios que o governo deu”.
O professor avalia que o "grande problema" para a economia "é o prolongamento do isolamento", e o futuro "depende de até quando isso vai existir". Segundo ele, governadores e prefeitos estão fazendo uso "político" da situação.
Pignatari considera que a saída de Guedes do governo neste momento seria uma "tragédia" e, mesmo com a crise, ele está "mantido", é hoje o ministro "mais forte" e sua política vai persistir após a pandemia, embora seu "liberalismo" vai "depender" das negociações das reformas com o Congresso.
"A gente estava sentindo uma recuperação, percebendo que alguma coisa que estava sendo feita e essas politicas estavam dando resultado, mesmo que pequeno. Se a gente imaginar que a gente vem de uma recessão de vários anos, e começa uma recuperação, isso é um sinal de alento, é uma coisa que realmente faria uma diferença muito grande", disse à Sputnik Brasil.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik

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