"Jair Bolsonaro não foi obrigado pela Justiça a reconduzir o braço-direito de Eduardo Cunha e ex-ministro de Michel Temer para Itaipu. Ele fez isso porque quis e para dizer ao centrão que está totalmente aberto à 'velha política' de cargos em troca de barrar o seu processo de impeachment", escreve o jornalista Aquiles Lins, editor do 247
Por Aquiles Lins, para o Jornalistas pela Democracia
Jair Bolsonaro fez um novo aceno à "velha política" e reconduziu ao conselho de administração de Itaipu Binacional o ex-deputado Carlos Marun (MDB-MS). Participante ativo do golpe de 2016, Marun era ponta de lança do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) e foi ex-ministro de Michel Temer.
No mesmo ato, publicado em edição extra do Diário Oficial da União dessa sexta-feira (15), Bolsonaro nomeou outro golpista como conselheiro da hidrelétrica binacional: o ex-deputado José Carlos Aleuia, além do próprio ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. O salário é de R$ 27 mil para participar de reuniões a cada 60 dias ou de forma extraordinária. O mandato vai até 2024.
Carlos Marun sempre foi do baixo clero na Câmara, da mesma turma de Jair Bolsonaro. Este grupo de parlamentares medianos, mais conhecidos pela sede por cargos e emendas parlamentares, viu sua influência crescer quando Eduardo Cunha foi alçado à presidência da Câmara, em fevereiro de 2015, à base de compra de deputados financiada por empresas como a JBS.
Carlos Marun ganhou maior visibilidade em outubro de 2017, quando a Câmara salvou Michel Temer da abertura de uma denúncia por formação de quadrilha e obstrução da Justiça. O então deputado dançou e cantou diante de jornalistas. “Tudo está no seu lugar. Graças a Deus, graças a Deus. Surramos mais uma vez essa oposição, que não consegue nenhuma ganhar”, disse ele, parafraseando uma música do cantor Benito Di Paula. Era a dancinha da impunidade:
Como prêmio pela lealdade, Temer nomeou Marun para o cargo de Conselheiro de Itaipu em 28 de dezembro de 2018, em um de seus últimos atos antes de entregar o governo a Jair Bolsonaro. Em março de 2019, Marun foi afastado do cargo por decisão liminar do desembargador Rogério Favretto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). O magistrado atendeu a uma ação popular que apontava que Marun foi nomeado quando ainda era ministro do governo, o que feriria a legislação legislação brasileira. A liminar foi derrubada pelo TRF-4 em maio de 2019. “Retorno de onde nunca deveria ter saído”, comemorou o político na época.
Carlos Marun é investigado em inquérito aberto pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), por supostas fraudes na concessão de registros sindicais no Ministério do Trabalho (junto com o neobolsonarista Roberto Jefferson e outros). Marun também é acusado pelo Ministério Público de desvio de R$ 16,6 milhões quando foi presidente da Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul (Agehab).
A recondução de Marun por Bolsonaro gerou repercussão nas redes sociais, com internautas, à esquerda principalmente mas também à direita, apontando a hipocrisia do ex-capitão que se elegeu com o discurso de combate à "velha política". Rapidamente, bolsonaristas criaram a "fanfic" de que Bolsonaro apenas cumpriu uma decisão judicial. Mentira.
A decisão do TRF-4 não obrigou Bolsonaro a reconduzir Marun. Esta prerrogativa é do chefe do executivo brasileiro, que indica seis conselheiros para o Conselho de Adminsitração da hidrelétrica, o mesmo número para o governo paraguaio. O Artigo15 do Regimento Interno de Itaipu diz que os dois governos, do Brasil e do Paraguai, podem substituir A QUALQUER MOMENTO os conselheiros que tiverem nomeado.
Assim, Jair Bolsonaro não foi obrigado a reconduzir o braço-direito de Eduardo Cunha e ex-ministro de Temer para Itaipu. Ele fez isso porque quis e para dizer ao centrão que está totalmente aberto à 'velha política' de cargos em troca de barrar o seu processo de impeachment.
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