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quinta-feira, 2 de junho de 2022

Coronel foge para não explicar por que o Exército compra Viagra do laboratório que inundou o país de cloroquina

 


O coronel Anderson Berenguer, diretor do laboratório químico farmacêutico do Exército, não apresentou motivo para negar o convite feito pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, conforme informa a Folha. Mas ao fazer forfait e deixar os deputados à espera de suas explicações, é possível que tenha avaliado que deveria proteger a própria pele. Ou a própria “imagem”, se preferirem. 

Chamado a participar de audiência pública ontem (01/06), o coronel fugiu de ter que debater parcerias para Desenvolvimento Produtivo (PDPs) em curso nos laboratórios públicos do país. Uma dessas PDPs, segundo alega o Exército, é a da transferência de tecnologia para a produção do citrato de sildenafila, (nome científico do Viagra), que incluiu a compra de milhões de comprimidos entre 2019 e 2022. Em carta aos deputados da comissão, Berenguer diz que declinou do “digno convite”, e sugere que a Associação dos Laboratórios Oficiais do Brasil seja chamada a falar.

Jorge Solla, deputado federal do PT-BA, disse ao jornal que “Eles – Forças Armadas – contrataram a aquisição do Viagra como sendo de PDP, com o laboratório EMS. Com isso, fizeram uma compra de Viagra sem licitação. “Nossa suspeita, com evidências fortes, é a de que foi uma forma de burlar a licitação e escolher um laboratório específico”, afirma o parlamentar. Bingo!

Conforme apurou a Comissão, como não existe patente do Viagra no Brasil e o sistema de PDP permite que você não precise fazer licitação, já há quatro anos o Exército adotou a prerrogativa de indicar uma empresa detentora da tecnologia, capaz de transferir suas especificidades a um laboratório público do Brasil. Durante esses quatro anos, segundo o deputado, a Força adota esse expediente sem, contudo, se beneficiar da transferência de tecnologia. Uma forma de burlar a licitação, apenas.

Embora a sociedade ignore se há uma “epidemia de impotência” nas fileiras e o Exército alegue que a compra foi para uso no combate à “hipertensão pulmonar” (doença que costuma acometer mais mulheres, e cuja posologia não é a mesma do Viagra, pois no caso da hipertensão é de apenas 20mg, quando a do Viagra é de 25mg), o contrato segue nesses moldes.

Aí começam as coincidências. Prestaram a atenção ao nome do laboratório que fornece o “estimulante” para as fileiras? Não?! Pois foi o EMS, reconhecidamente o “rei dos genéricos”.

O EMS, maior indústria farmacêutica do Brasil, foi o primeiro laboratório a obter licença da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para produzir a versão genérica do Viagra, no país, em 2014, ano em que expirava a validade da patente do medicamento (fonte: portal Guiame.com). Àquela altura, – 21/06/2014 -, Waldir Eschberger Júnior, o vice-presidente de mercado da EMS, publicou nota, avisando que aguardava apenas isto para disponibilizar o remédio no mercado brasileiro, a expiração da patente.

Tinham diante de si um mercado para lá de promissor, anunciavam, para “um dos medicamentos mais vendidos no país, que movimentou cerca de R$ 170 milhões no ano passado (2013 – grifo nosso). Em âmbito global, esta quantia chegou a US$ 1,9 bilhão.” E avisava: “Queremos ser o primeiro a chegar às farmácias, pois, quem sai na frente, sempre acaba liderando as vendas”, dando mostras do seu “tino” comercial.

E não foi diferente com a Cloroquina, amplamente debatida durante a pandemia, quando foi apresentada por Bolsonaro, filhos e membros do seu governo, como a “saída milagrosa” para as milhares de mortes por Covid-19, em um mercado potencial de R$ 9,7 milhões por mês no Brasil. Bolsonaro queria que a população esquecesse as vacinas e acatasse a sua empulhação negacionista. Fazia corpo mole para a aquisição das vacinas comprovadas cientificamente como eficazes e que não chegavam ao Brasil devido às “negociatas” flagradas pela CPI da Covid.

O que se sabe é que o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) aumentou em 80 vezes a produção do remédio desde março de 2020, e laboratórios privados prometiam em julho daquele ano ampliar a fabricação. Embora especialistas em saúde pública temessem efeitos colaterais da cloroquina, no uso contra o coronavírus, o embate em torno do medicamento, com contornos técnicos e políticos, movimentou o mercado farmacêutico brasileiro. Diante de tamanha perspectiva, os laboratórios privados ampliaram a fabricação, para distribuição em hospitais e postos de saúde públicos.

O aumento da produção do foi determinado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, defensor enfático da cloroquina. Por que será?

Cloroquina foi assunto dos mais discutidos na PCI da Covid

Antes da pandemia, a média produzida era de 250 mil comprimidos a cada dois anos, quase todos para combater malária e doenças reumatoides, como lúpus. No auge da pandemia foram 2 milhões de pílulas em três meses (março, abril e maio), com prioridade para a covid-19.  A produção ganhou tal ritmo que precisou ser interrompida por falta de insumo – encomendado da Índia -, mas foi retomada em junho de 2020, numa quantia não divulgada pelas Forças Armadas, o que gerou investigação.

O Ministério Público de Contas (MPC) solicitou ao Tribunal de Contas da União auditoria sobre possível superfaturamento nas compras de insumos de cloroquina feitas pelo Exército, sem licitação, e mandou checar também o porquê da ampliação na oferta de um medicamento que ainda não tinha comprovação científica para tratar a covid-19.

O subprocurador-geral do MPC, Lucas Rocha Furtado, investigou se procediam informes de possível superfaturamento. Afinal, o preço do quilo do sal difosfato (matéria-prima produzida na Índia) comprado pelo Exército, na época, havia saltado de R$ 219 para R$ 1,3 mil entre maio de 2019 e maio de 2020.

Como a produção, não atendesse à enorme demanda provocada pela propaganda do presidente, a produção do laboratório militar, localizado no Rio de Janeiro e criado em 1808 (com o nome de Botica Real Militar), não tinha mãos a medir quanto à enorme demanda criada por ele e pelo medo da maior ameaça sanitária já enfrentada pelo Brasil. O país, àquela quadra estava com mais de 1,7 milhão de infectados pelo coronavírus e grande parcela permanecia hospitalizada em estado grave. As Forças Armadas não produziam todo o medicamento, mas apenas o difosato de cloroquina (fabricado desde 1940) e não dominavam a forma mais moderna e com menos efeitos colaterais, o sulfato de hidroxicloroquina, segundo alegavam para a compra, pelo governo, nos laboratórios privados.

Foi aí que entraram os laboratórios privados, prometendo medicamento de última geração, em troca da perspectiva de um mercado de R$ 9,7 milhões mensais. Uma fatia mercadológica a ser disputada. Somente três indústrias particulares estão autorizadas a comercializar a hidroxicloroquina no Brasil: a multinacional Sanofi, e as brasileiras EMS e Apsen. A da Sanofi é importada da Europa. Essa empresa, inclusive, decidiu interromper as vendas no Brasil, em meio à polêmica sobre efeitos adversos em pacientes com covid-19.

Uma quarta empresa, a brasileira Cristália, se ofereceu para também produzir. Essas indústrias farmacêuticas informaram à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que reuniam condições de produzir 7,2 milhões de comprimidos por mês.

Um deles, o laboratório EMS – Chamado de “rei dos genéricos”. O EMS produz uma hidroxicloroquina genérica, semelhante ao Plaquinol, da francesa Sanofi-Aventis (que tem como acionista o presidente norte-americano Donald Trump). O dono do EMS e de outro laboratório apto a produzir cloroquina, o Germed, é Carlos Sanchez, chegaram a participar de duas reuniões de industriais com Jair Bolsonaro, nas quais o presidente prometeu pressionar a Índia pela venda de produtos necessários à fabricação do medicamento. Sanchez foi um dos que pediram e conseguiram que o imposto de importação dos insumos da cloroquina fosse zerado. Ele também obteve aprovação da Anvisa para estudos clínicos apoiados pela empresa EMS para uso de hidroxicloraquina em pacientes com coronavírus, (de acordo com informações da GZH).

Por toda esta interligação entre uma situação e outra, o coronel Berenger deve ter avaliado com os botões da sua farda se valia a pena amarrotá-la durante horas de depoimento a deputados ávidos a espremê-lo, sobre tema espinhoso e cujas explicações ele talvez não detenha todas. Por fim, concluiu: melhor escapar desses congressistas cheios de tesão para arrancar dele a história da contratação de lotes de Viagra.

Publicado originalmente no site Jornalistas pela Democracia

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Rui Costa anuncia coronel Paulo Coutinho como novo comandante-geral da PM

 


O governador Rui Costa (PT) anunciou nesta segunda-feira (11) a troca no comando-geral da Polícia Militar. Sai o coronel Anselmo Brandão e entra o também coronel Paulo Coutinho. Coutinho já foi comandante do Batalhão De Operações Policiais Especiais (Bope). Ele também já foi comandante e subcomandante do esquadrão de motociclistas Águia, subcomandante do 14º BPM/SAJ, assistente militar do vice-governador da Bahia, comandante e subcomandante do 3º pelotão da Companhia de Ronda Tática Móvel (Rotamo), chefe da unidade discente do CFAP, oficial de guerra química do Batalhão de Choque e comandante do batalhão de Polícia de Choque, sua última função. “Neste momento, quero agradecer toda dedicação, o trabalho e o empenho do coronel Anselmo que comandou a PM nos últimos seis anos”, disse Rui. A nomeação do novo comandante da corporação sai na edição desta terça-feira (12) do Diário Oficial do Estado. Na quarta (13), haverá a cerimônia de posse. 


sábado, 9 de janeiro de 2021

Coronel indicado por Bolsonaro que duvidava da pandemia está na UTI com Covid-19


 

O tenente-coronel Jorge Luiz Kormann, indicado para a Anvisa, bombardeava um grupo de WhatsApp dos servidores do ministério da Saúde com mensagens para que a pasta mudasse o método de contagem dos infectados pela Covid-19

Da Fórum - Crítico da CoronaVac e defensor dos tratamentos sem comprovação científica a base de cloroquina, o tenente-coronel Jorge Luiz Kormann, que foi indicado por Jair Bolsonaro (Sem Partido) para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), está internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) com Covid-19. A informação é do jornal Valor Econômico.

Kormann atua secretário-executivo adjunto no Ministério da Saúde. A indicação dele para a Anvisa ainda não foi analisada pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Segundo técnicos do ministério, o tenente-coronel bombardeava um grupo de WhatsApp dos servidores com mensagens para que a pasta mudasse o método de contagem dos infectados pela Covid-19.

Leia a íntegra na Fórum.


sábado, 19 de setembro de 2020

Ex-assessor de Flávio Bolsonaro, coronel do Exército fez 16 saques que somam R$ 260 mil



Além das movimentações financeiras suspeitas do ex-assessor Fabrício Queiroz, outro ex-assessor de Flávio Bolsonaro, o coronel da reserva do Exército Guilherme Henrique dos Santos Hudson, efetuou saques em dinheiro que totalizaram R$ 260 mil entre 2009 e 2016.

É o que revela a quebra de sigilo de ex-funcionários do gabinete. De acordo com reportagem do jornal O Globo, o coronel Hudson seria responsável por fazer o imposto de renda de familiares de Flávio e outros funcionários que participariam do suposto esquema de rachadinha.

Coronel Hudson é amigo há décadas de Bolsonaro, com quem cursou a Academia Militar das Agulhas Negras entre os anos de 1973 e 1977. Ele é casado com Ana Maria de Siqueira Hudson, tia de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher do presidente. Dos três filhos do casal, apenas um nunca trabalhou com o clã Bolsonaro.

O militar da reserva teria feito ao menos 16 saques com valores superiores a R$ 10 mil e, “procedimento indica saque em espécie”, registro obrigatório nas instituições financeiras em operações desse tipo.

Coronel Hudson também teria parentes em cargos comissionados tanto no gabinete de Flávio, na Alerj, quanto de Carlos Bolsonaro, na Câmara Municipal do Rio.


quarta-feira, 3 de junho de 2020

Coronel da PM causou tumulto para provocar repressão ao ato pró-democracia na Paulista



Publicado no Jornalistas Livres
O coronel Américo Massaki Higuti, oficial da reserva da Polícia Militar, foi o causador de uma briga que serviu de pretexto para a brutal repressão contra os manifestantes antifascistas que foram no domingo (1/6) à avenida Paulista  para defender a Democracia.

Embora na reserva, o coronel Américo Higuti compareceu à avenida Paulista trajando uma farda do COE, Comando de Operações Especiais, tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo. Acontece que o uso de uniforme é privativo dos militares em serviço ativo. Os militares da reserva e os reformados podem usar seus uniformes por ocasião de cerimônias sociais, militares e cívicas, categorias em que a manifestação de domingo na avenida Paulista definitivamente não se encaixa.
O coronel Américo Higuti é um ativo apoiador de Jair Bolsonaro. Ele mantém três perfis no facebook, em que posta fotos ao lado de celebridades de extrema direita, como o príncipe destronado Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Carla Zambelli e o próprio presidente.
Xingamentos na travessia
No domingo, ele participaria do ato em apoio a Bolsonaro e contra o STF (Supremo Tribunal Federal), que acontecia a um quarteirão de onde se reuniam os Torcedores pela Democracia –corinthianos, palmeirenses, sãopaulinos e santistas contra o fascismo.
Um cordão de isolamento formado por uma fileira de policiais militares separava um grupo do outro. Apesar das provocações fascistas dirigidas ao grupo dos torcedores, a situação estava sob controle. Cada grupos gritava suas palavras de ordem e agitava suas bandeiras.
Foi então que o coronel Américo Higuti, o sargento PM Valdani, também fardado irregularmente, já que é da reserva, e um manifestante bolsonarista embrulhado na bandeira brasileira decidiram atravessar a pé a manifestação dos torcedores pela Democracia e contra o Fascismo. O grupo estava sendo escoltado por um soldado fardado da PM.
Ao se aproximarem, em atitude claramente provocativa, os homens foram advertidos. “Não entrem aí, vocês estão querendo briga? Não vão!” Mas foi inútil. Torcedores presentes na manifestação relataram aos Jornalistas Livres que o grupo bolsonarista do coronel Américo Higuti entrou, xingando, na concentração pela Democracia: “ladrões”, “vândalos” e “maconheiros” foram algumas das ofensas.
O coronel Américo Higuti, ao sair do outro lado da manifestação, alegou ter sido espancado, esfaqueado e “vítima de uma emboscada”.
O sargento Valdani, também da reserva, alegou ter sido violentamente agredido pelos Torcedores.
Foi a senha para começar a repressão.
Os PMs que atuavam na segurança dos atos entraram em alvoroço e começou a confusão. Arremessaram bombas contra os torcedores enquanto o coronel Américo Higuti conversava com um soldado, parecendo dar-lhe ordens.
Quando a avenida Paulista já havia se transformado em uma praça de guerra, o coronel Américo Higuti ainda foi visto tomando água, ladeado por PMs, no posto móvel da polícia, em frente ao parque Trianon e ao Masp.
Depois do ato, o coronel foi ao 78º Distrito Policial, denunciando ter sido agredido, esfaqueado, “vítima de uma emboscada” e “impedido de se manifestar livremente”. Mas as imagens mostram que, ao contrário, foi ele que armou contra os manifestantes. Quanto à facada, será mesmo que ocorreu? Um homem esfaqueado não estaria tranquilamente assistindo à repressão que desencadeou e, depois, tomando um copo de água com os soldados do posto móvel da PM. Nem muito menos dando entrevista na porta da delegacia para sites fascistas.
O sargento Valdani também conversou com blogs da extrema direita tão logo terminou de prestar queixa no 78º DP. Estava firme e forte. Estranhamente, logo depois, foi internado, alegando fortes dores causadas pelas supostas agressões dos torcedores.
Jornalistas Livres encaminharam às 10h43 à assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo as seguintes questões. Recebemos a nota em resposta às 16h46.
PERGUNTAS:
Prezados senhores,
(…) Gostaríamos de obter as seguintes informações:
  1. Qual o estado de saúde presente do coronel Américo Massaki Higuti? E do sargento Valdani?
  1. Por que o coronel Américo Massaki Higuti e o sargento Valdani compareceram à avenida Paulista trajando uniformes do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar? PMs da reserva podem usar fardamento em atos políticos?
  1. Por que um policial militar da ativa escoltou os manifestantes pró-bolsonaro em sua passagem por dentro do grupo contra Bolsonaro, colocando em risco a segurança dos escoltados?
  1. Torcedores que entrevistamos dizem que a “provocação” do coronel Higuti foi o que deu pretexto para a repressão que se iniciou a partir daí. Gostaríamos que a PM descreva o fato que deflagrou a repressão.
RESPOSTAS:

Nota da Secretaria de Segurança Pública a respeito dos questionamentos feitos pelos Jornalistas Livres

terça-feira, 21 de abril de 2020

‘Como militar me sinto envergonhado pelas ações de Bolsonaro’, diz coronel da PM paulista

 JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO O coronel da PM Glauco Carvalho (26/10/2012)


“Como Militar, sinto-me envergonhado por tantas ações atabalhoadas, extravagantes, ridículas e mesquinhas.” As palavras do coronel da PM paulista coronel Glauco Carvalho sobre o presidente Jair Bolsonaro causaram um rebuliço entre seus pares. Glauco tem experiência com crise. Enfrentou os ataques do PCC e chefiava quase 30 mil homens do Comando do Policiamento da Capital quando passou para a reserva.


Em meio à crise do coronavírus, decidiu fazer o desabafo em um grupo de policiais no WhatsApp. A postagem do coronel terminava assim: “E esse presidente, despreparado para o cargo, me comparece à manifestações e diz 'se eu pegar é responsabilidade minha'!!! Surreal. Deveria sofrer um impeachment!!!”

Hoje Glauco é o vice-presidente do Clube dos Oficiais da PM. E desde quinta-feira, 19, dia de sua manifestação, tornou-se uma voz dissonante em um meio que majoritariamente apoia o presidente. Acabou criticado por colegas bolsonaristas, mas também recebeu apoios, principalmente de civis. Glauco conheceu Bolsonaro quando trabalhava na assessoria parlamentar da PM no Congresso, nos anos 1990. Eis sua entrevista:

Por que o senhor decidiu se manifestar agora?
No meu entender há uma postura muito frágil do presidente da República em relação à gravidade da difusão dessa doença em solo brasileiro. E a inação dele vai gerar muitas mortes no Brasil - eu espero estar sinceramente equivocado. Essa postura dele de minimizar o quadro só vai agravar a situação e levar à perda de vidas. Isso me levou a me envergonhar de ser militar como ele e sermos preparados para crises graves. Fiz essa postagem me desculpando perante um grupo de pessoas pela postura de um presidente que eu entendo não estar apto a exercer o cargo político mais importante do País.

Qual a importância do planejamento e da gestão de uma crise para o senhor? E de que forma o presidente não estaria agindo segundo o que se esperava de um militar?
O militar é formado para evitar as crises e, entrando nas crises, achar alternativas para sair delas. O grande problema do Bolsonaro é minimizar e desprezar a crise. E ao desprezá-la, não toma medidas.

Vou dar um exemplo concreto: fui oficial de Estado-Maior da Polícia Militar por 15 anos. Você prepara cenários e, sempre, prepara-se para o cenário mais agudo, o mais grave. Neste momento, eu tenho certeza de que os oficiais e as praças do Centro de Inteligência e do Departamento de Operações da PM de São Paulo devem estar fazendo planejamentos para o pior cenário. Devem estar trabalhando com as seguintes hipóteses: proteção de supermercados; proteção de hospitais, pois em um caso de agravamento as pessoas podem desacatar médicos e agredir enfermeiros; prevenção de saques; transporte de cadáveres; incorporação de novos policiais, pois não vamos poder parar de formar policiais; armazenamento de corpos, pois pode não haver locais suficientes para mantê-los; cremação de cadáveres, como em Bergamo, na Itália; infecção de policiais, pois eles estão na rua e terão contato com pessoas; mecanismos de controle de pessoas e controle de portos, aeroportos e rodoviárias, acompanhando enfermeiros para fazer exames em quem chega a São Paulo; requisições de bens; check point com isolamento total de determinadas áreas e outras medidas que contribuam para controlar a doença.

Tenho a convicção plena de que meus companheiros da ativa estão trabalhando com o pior cenário. Se vier o melhor cenário, ótimo. Se não vier, a sociedade estará trabalhando para enfrentá-lo. O mais grave erro de Bolsonaro é desprezar o quadro que a sociedade está passando.

Prever esse cenário serve para se preparar se ele acontecer. É isso?
Eu participei das crises contra o PCC de 1999, 2001, 2006 e 2012. Há um grande temor no governo de como transmitir informações para a população sem criar alarme. Por outro lado, a omissão pode gerar consequências drásticas e um posicionamento contrário da sociedade em relação ao governo. Em 2006, se fez isso, atrasou-se o aviso aos policiais do que estava para acontecer (os ataques do PCC). E há quem atribua a morte de policiais a essa decisão.

Eu não quero dizer que essas medidas vão ser tomadas. Mas elas têm de estar preparadas e escritas em um plano de operações. Se o quadro se agravar onde estão os hospitais, onde estão as farmácias e os supermercados? Esse é o momento de se preparar para o pior, pois se o caso se agravar você já tem plano de ações pré-definidos. E é exatamente o que Angela Merkel está fazendo na Alemanha, que está tomando medidas gradativas desde janeiro. Em que pese terem pouco menos de 90 mortes, eles estão tomando medidas gradativas de controle.

Nesse cenário, no pior dele, o presidente estaria errado em pensar em Estado de Sítio?
Eu acho que ele não estaria errado, tanto que a região Leste dos Estados Unidos admite adotar lei marcial caso as medidas de isolamento forem descumpridas, mas para adotar o Estado de Sítio, Bolsonaro terá de contar com grande legitimidade. A impressão que eu tenho é que a legitimidade do presidente se esvai rapidamente.

Quando ele compara um surto desse com uma “gripezinha”, quando ele autoriza que os cultos e missas continuem ocorrendo e se põe contrário a governadores que estão tomando medidas para conter a evolução da crise e difusão da doença, e quando ele, principalmente, comparece a um ato público que é um ato que se constitui em uma tragédia para a democracia - e não só do ponto de vista político, no sentido de comparecer a um ato que atenta contra outros Poderes, pois ele poderia estar com a gripe transmitindo para outras pessoas -, ele perde a legitimidade. E, para aplicar o Estado de Sítio numa democracia, você pressupõe uma legitimidade grande de um presidente; e eu tenho a impressão de que ele terá sérios problemas daqui para frente.

Qual seria o papel dos militares numa situação como essa?
Tenho a impressão de que a Polícia Militar e a classe médica, esses dois segmentos, vão ser os grandes líderes da saída institucional da crise que se vislumbra. As pessoas ainda não têm ideia do que está ocorrendo no dia a dia dos hospitais, entre os médicos e os policiais. Os médicos serão os líderes no primeiro momento, e a PM vai assumir relevância grande no segundo momento.

Só para lembrar: em 1904, a Força Pública de São Paulo mandou dois batalhões para o Rio de Janeiro para impor a vacina obrigatória, uma vez que a população do Rio não aceitava ser vacinada. Nós temos história no tratamento de questões ligadas à saúde pública. Os médicos para curar as pessoas, e a PM, no segundo momento, pois acredito que pode haver desorganização social em função do quadro econômico que se vislumbra para o Brasil.

Como um policial vai impor a ordem, se esse impor a ordem implica às vezes contato físico com quem pode estar doente. A polícia tem equipamento para isso? Está preparada para esse tipo de baixa?
A polícia nesse momento não está, tanto quanto a área médica. Talvez a sociedade não saiba, mas há grande aflição na área médica, pois nem todos têm condições, equipamentos para seus profissionais, como avental impermeável, óculos de proteção, luvas e toca e máscara N95. Se nos hospitais não têm, imagina o policial, uma vez que se demorou a tomar medidas. A minha grande insatisfação com o governo Bolsonaro, afora sua postura autoritária, é o fato de ele ter demorado três meses para agir. Nesse momento, já era para nós estarmos entrando em uma segunda fase.

Minha maior preocupação é com as vidas das pessoas que podem morrer por falta de atenção do serviço público de saúde e com a vida de policiais militares, de médicos e enfermeiras. São os cabos e soldados, tenentes e capitães, que estão na ponta de linha que muito provavelmente vão contrair o vírus e vão transmitir às suas famílias. Teremos um agravamento da crise. Temos de pensar na ponta da linha, no policial que está no serviço. Temos de pensar no serviço operacional. O atraso em tomar medidas pelo presidente da República e as suas atitudes erráticas e contraditórias vão levar a uma dimensão da crise que o País não tem ideia. Fui criticado por colegas, mas eu temo pelo pior.

Mas o que o presidente poderia ter feito há três meses?
O surto na China teve início em novembro. Em dezembro, já sabendo da dimensão do problema na China, ele já deveria ter adotado uma série de medidas em relação ao fluxo de pessoas que entrava e saía do Brasil. Até agora nós não temos quantidade de exames suficientes, equipamentos e testes para atender à população. Se ele tivesse tomado algumas medidas naquela época, provavelmente, agora já estaríamos em segundo etapa. Teríamos testes, máscaras, luvas, aventais, esses EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) que as pessoas veem na televisão na China e na Itália. Os nossos médicos e os nossos policiais e bombeiros estão completamente vulneráveis.

Eu espero estar errado, temos 40 milhões de trabalhadores informais e temos de pensar nessa população vulnerável. Se você me perguntar, se Bolsonaro tivesse agido antes, se poderia ter contido (a covid-19), é uma incógnita, mas eu sei que a inação dele levou ao que a gente está vivendo hoje. Mas as pessoas estão cegas pela ideologia. Tanto quanto o PT criou a ideologia do Lula livre e do Lula inocente, criou-se agora a do Bolsonaro salvador da Pátria. Elas são apenas versões divergentes, mas no fundo são a mesma coisa, e o tempo vai dizer isso para todos nós.

O senhor é filiado ao partido Novo e João Amoêdo fez uma declaração forte contra Bolsonaro. Essa posição do senhor tem relação com isso?
Nenhuma. Eu estou há dois anos afastado do partido Novo por uma série de circunstâncias puramente pessoais. Particularmente, acompanhei de longe as declarações do Amoêdo. Mas isso mostra a fragilidade do governo Bolsonaro. Ele tem perdido apoio gradativamente dos liberais e dos conservadores, como a deputada Janaína Paschoal. A legitimidade dele está entrando em erosão.

Por enquanto, sou voz minoritária na Polícia Militar, mas temos efetivo de 90 mil pessoas que vai trabalhar cotidianamente. Um efetivo extremamente exposto à doença, tanto quanto o segmento evangélico. Haverá corrosão da legitimidade dele nos segmentos que lhe deram sustentação. Meu posicionamento independe do ex-presidente do Novo, que eu respeito muito. Meus posicionamentos em relação ao Bolsonaro já eram críticos desde o ano passado, mas se avolumaram agora porque eu acho que a inação dele vai gerar uma crise gravíssima no Brasil.

O senhor conheceu Bolsonaro nos anos 1990?
Eu tive contato com ele quando eu era assessor parlamentar da PM em Brasília, nos anos 1990. Naquele momento, havia a PEC 46, da Zulaiê Cobra, e a do Hélio Bicudo, que extinguiam as Polícias Militares. E ele (Bolsonaro) nunca foi um parlamentar atuante para conter o avanço tanto dessas PECs.

Quer dizer que no passado ele nada fez para impedir a extinção das PMs?
Nada fez. Eram outros parlamentares, de Minas, do Rio Grande do Sul e de São Paulo, o Hélio Rosas entre eles, que fizeram uma frente para impedir a extinção das PMs. Além do que havia uma contrariedade imensa nas Forças Armadas em relação a Bolsonaro.

Por quê?
Porque eles consideravam o Bolsonaro uma pessoa desordeira, uma pessoa desqualificada e indisciplinada. Essa era a visão das Forças Armadas.

E qual é a visão do senhor sobre Bolsonaro?
Essa é também a minha visão sobre Bolsonaro. Na minha opinião, ele é uma pessoa despreparada para ser o primeiro mandatário do País. Lamentavelmente, o desgoverno do PT e a posição dúbia do partido em relação aos que transgrediram as regras legais levaram à eleição dele. Tanto que meus colegas dizem: ‘E se fosse o Lula, e se fosse o fulano ou o beltrano?’ Mas nós não temos só essas alternativas. O Brasil se radicalizou. Não existe só o preto e o branco. O Brasil se radicalizou em razão do quadro grave e agudo. Bolsonaro era a alternativa que tinha. As pessoas não queriam mais alguém que fosse do establishment e saiu o Bolsonaro. Há que aparecer uma nova liderança de centro que tenha condições de aglutinar a Nação e fazer com que a Nação ache solução para seus problemas.

O senhor disse que Bolsonaro é autoritário. Por quê?
O presidente Bolsonaro tem atitudes radicais e autoritárias. Na literatura sobre o populismo dos anos 1970 e 1980 veremos que o quadro se agravou na América Latina em razão de lideranças carismáticas que desprezaram as instituições e os poderes de representação e se arvoraram no papel de salvadores da pátria. Essa é uma literatura sólida e nós assistimos à mesma coisa agora com uma roupagem um pouco diferente. Ele é ainda autoritário porque representa setores autoritários da sociedade brasileira.

Eu lembro o cientista político Guillermo O’Donnell, que se radicou nos Estados Unidos, e que tem a teoria do autoritarismo socialmente implantado nas sociedades latino-americanas. Bolsonaro é resultado desse autoritarismo que existe no seio da sociedade, que faz as pessoas não respeitarem regras, as pessoas se sentirem acima da lei e desprezarem umas às outras e quererem impor de forma dramática e descomunal sua vontade umas às outras. O Bolsonaro é um pouco o resultado de tudo isso; e o Brasil não precisa disso. O Brasil tem outros segmentos importantes da sociedade que não se coadunam com esse tipo de comportamento.

Precisamos achar alternativas, pois o radicalismo nunca é uma alternativa. Nós precisamos achar alternativas democráticas, dentro do jogo institucional. Não podemos agravar o descontrole social com o institucional; e ele não tem estatura para isso. Esse é o grande problema. Precisamos achar alternativas que levem à solução pacífica e dentro do quadro institucional e da Constituição para que a nação possa continuar dentro de seu destino histórico.

O presidente da associação, coronel Antonio Chiari, disse que o senhor não fala em nome da associação?
Eu respeito a opinião do presidente. Mas sou vice-presidente da associação, pois fui eleito. Vamos passar por período complexo e, em que pese a descortesia de ele não me consultar antes de se manifestar, vamos ter de unir esforços para enfrentar esse período. Meu pronunciamento, de fato, desde o começo foi e é em caráter pessoal e não como vice-presidente da associação.

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