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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

'Bolsonaro só semeia insegurança e violência', diz candidata à presidência de Portugal

 


A campanha para presidente de Portugal entra em sua reta final nesta semana. A votação será no domingo (24). Candidato à reeleição, Marcelo Rebelo de Sousa (apoiado por PPD/PSD e CDS-PP) é favorito para vencer ainda no 1º turno, com 66,7% das intenções de votos, segundo a última pesquisa divulgada.

No segundo lugar, estão tecnicamente empatados o deputado André Ventura, do partido de extrema direita Chega, e Ana Gomes, apoiada pelos partidos LIVRE e PAN, com 11% e 10,8% dos votos, respectivamente. Na sequência, aparece Marisa Matias (Bloco de Esquerda), com 4%. João Ferreira (PCP), com 3,2%, e Tiago Mayan Gonçalves (IL), com 2,3%, completam as projeções da pesquisa encomendada por TVI/Observador. 

Sputnik Brasil entrevistou Ana Gomes durante evento organizado pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP), em um hotel em Lisboa, nesta segunda-feira (19). A ex-eurodeputada socialista, viúva de António Franco, embaixador de Portugal no Brasil entre 2001 e 2004, vê com preocupação o crescimento da extrema direita em seu país e no mundo. 

Questionada por Sputnik Brasil se vê semelhanças entre seu opositor André Ventura e o presidente Jair Bolsonaro, a jurista disse que ambos alimentam um discurso divisionista e anticientífico, que "quer estimular a desunião entre os cidadãos e que só semeia insegurança e violência". 

"Preocupa-me muito a questão que estão a sofrer todos no Brasil, designadamente, em consequência da terrível gestão da pandemia, que é o resultado da atitude do presidente Bolsonaro e do desacerto com as autoridades a todos os níveis por parte do seu governo. O povo brasileiro está a pagar caro", avalia Ana Gomes.

A diplomata, que foi chefe de missão e embaixadora de Portugal na Indonésia entre 2000 e 2003, destacou-se por ajudar a negociar a independência do Timor-Leste. Segundo ela, o propósito de Ventura, que conta com o apoio da francesa Marine Le Pen e do italiano Matteo Salvini, é destruir o projeto europeu e a Constituição portuguesa, saindo da Organização das Nações Unidas (ONU). A candidata chama atenção para o fato de a invasão ao Capitólio por apoiadores de Donald Trump não ter sido um ato isolado.

"Não podemos ser ingênuos e não ver uma marca e uma estratégia por parte de uma central de extrema direita que tem financiadores nos EUA e importantes instrumentos no Brasil através de certos grupos religiosos, com o propósito de destruir a liberdade e a democracia em vários continentes. Em Portugal, durante muito tempo se alimentou a ilusão de que não chegam cá esses tipos de fenômenos. Mas chegaram e há uma ligação. Quem financia esse partido da ultradireita [Chega] são forças ligadas à ditadura, aos maiores esquemas de corrupção e de desvios de recursos do Estado", acusa.

Ana Gomes também criticou Marcelo Rebelo de Sousa por, segundo ela, minimizar o perigo e dizer que a extrema direita é apenas mais uma corrente de opinião e que é preciso fazer o combate às ideias. De acordo com a diplomata, mais do que isso, é necessário aplicar a Constituição portuguesa, que proíbe organizações racistas e quaisquer fundações que ponham em causa a democracia política. 

Nesta terça-feira (19), a candidata admitiu a possibilidade de suspender a campanha nas ruas diante do agravamento da segunda onda da pandemia de COVID-19. João Ferreira também avalia a hipótese. Com uma campanha atípica de apenas duas semanas, em que os candidatos vão às ruas praticamente vazias em função do lockdown, os debates pela TV e pelo rádio têm sido a principal forma de aparecer para os eleitores.



© SPUTNIK / CAROLINE RIBEIRO
O deputado português André Ventura, único eleito pelo estreante partido Chega

André Ventura não compareceu ao último debate radiofônico entre os sete candidatos presidenciais, nesta segunda-feira (18). Na noite anterior, realizou um jantar-comício com mais de 160 pessoas, promovendo aglomeração em um restaurante em Braga, no norte de Portugal, mesmo com os pareceres negativos da  Proteção Civil e do delegado de saúde responsável pela região. Jornalistas foram hostilizados durante o evento. A Guarda Nacional Republicana identificou o dono do restaurante e vai enviar as informações ao Ministério Público para apurar eventuais ilegalidades.

Usando batom vermelho, Chico Buarque grava vídeo em apoio a Marisa Matias

Já Marisa Matias realizou um comício virtual, na noite de segunda, com a participação da escritora espanhola Pilar Del Rio, presidente da Fundação José Saramago, e de Chico Buarque. Usando batom vermelho nos lábios, o cantor brasileiro gravou um vídeo em apoio a Marisa. A hashtag #VermelhoemBelém, em referência ao palácio presidencial, viralizou nas redes sociais depois que Ventura disse que a candidata do Bloco de Esquerda "não está muito bem em termos de imagem, com aquele batom muito vermelho, como se fosse uma coisa de brincar". 

​Outros brasileiros, como Guilherme Boulos, ex-candidato à Presidência do Brasil e à Prefeitura de São Paulo, e o ex-deputado federal Jean Wyllys escreveram em solidariedade a Marisa. A defesa à eurodeputada bloquista ganhou eco em outros países também. Em Luxemburgo, a ministra do Interior, Tania Bofferding, questionou: "Por que razão ainda temos de falar sobre igualdade de gênero e estereótipos? Porque, mesmo hoje, uma política é criticada pela cor dos seus lábios em vez das ideias que ela expressa utilizando esses lábios." 

Na Espanha, a ministra da Igualdade, escreveu em sua conta no Twitter: "'Maquia-te como uma boneca, falas como uma criança, és uma histérica.' O que te incomoda realmente é que as mulheres ocupem o espaço público sem pedir autorização. Em frente, Marisa Matias. Que viva a luta das mulheres." Em Portugal, a própria Ana Gomes gravou um vídeo passando batom vermelho em defesa de sua concorrente e das mulheres.

Para a diplomata, apesar de Portugal ser um país formado, em sua maioria, por mulheres que gerem suas casas e empresas com grande eficácia, as leis de paridade de gênero não são cumpridas, e há um fosso salarial entre os dois gêneros, além de elevado índice de violência doméstica. Segundo ela, é preciso uma mulher na presidência para vigiar e exigir o respeito às leis. Identificada com os ciganos, ela conta com o voto em massa da comunidade, que tem cerca de 50 mil residentes no país, e é alvo de discriminação.

Questionada sobre por que os brasileiros que têm igualdade de direitos políticos em Portugal deveriam também votar nela, Ana Gomes reconhece que a comunidade brasileira também é vítima de xenofobia em terras lusitanas. Ela cita o caso das denúncias de maus-tratos feitas por brasileiras contra agentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no Aeroporto de Lisboa, além da cobrança de mensalidades mais caras para brasileiros em universidades portuguesas.

"Não se pode continuar a submetê-los a práticas sinistras como aquelas que vemos no SEF. Não podemos continuar com políticas discriminatórias em relação aos nossos cidadãos brasileiros nas universidades, onde várias vezes pagam propinas [mensalidades] exorbitantes. Isso não é minimamente aceitável, porque é do nosso interesse acolher os brasileiros, integrá-los e aproveitar seus talentos, sua criatividade, a vitalidade e o rejuvenescimento que eles trazem à nossa sociedade, que tão carenciada está de combater o declínio demográfico", afirma Ana Gomes à Sputnik Brasil. 

A candidata também disse que, se eleita, não iria à posse de Bolsonaro em uma eventual reeleição do presidente do Brasil em 2022, diferentemente de Rebelo de Sousa, que compareceu a Brasília quando Bolsonaro assumiu o primeiro mandato, em 2019. Ana Gomes elogiou ainda o voto eletrônico, como um bom exemplo que vem do Brasil e que Portugal deveria ter seguido há muito tempo. 



© AFP 2020 / JOSE MANUEL RIBEIRO
Eleições legislativas em Portugal

Mais de 246 mil eleitores inscritos para votar antecipadamente

Apesar das medidas rígidas de confinamento em função da pandemia de COVID-19, no próximo domingo será permitida a circulação para as pessoas votarem manualmente. No último domingo (17), dos 246.880 eleitores inscritos para o voto antecipado, cerca de 83% compareceram às urnas, de acordo com dados provisórios do Ministério da Administração Interna (MAI). Como as seções eleitorais estavam concentradas em poucos lugares, houve longas filas. 

Mesmo quem estava inscrito e não compareceu à votação antecipada, terá uma nova oportunidade no dia 24. Outras 12.906 pessoas, entre idosos em asilos e pessoas em confinamento obrigatório por estarem infectadas com o coronavírus SARS-CoV-2, vão poder votar sem sair de casa. Nestas terça e quarta (19 e 20 de janeiro), equipes eleitorais vão providenciar os votos em domicílio àqueles que se inscreveram sob essas condições, de acordo com informações do MAI.  

As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik


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