Marcelo Luiz Nogueira dos Santos, o ex-empregado que denunciou uma série de supostos crimes cometidos pela família Bolsonaro, afirma que o presidente Jair Bolsonaro decidiu transferir para Flávio e Carlos Bolsonaro o comando do suposto esquema de corrupção nos gabinetes de ambos após descobrir que era traído por sua então mulher, a advogada Ana Cristina Siqueira Valle.
De acordo com o Metropóles, o ex-funcionário revelou, que ela foi a primeira a controlar todo o recolhimento de parte dos salários de todos os assessores parlamentares dos dois filhos do presidente, respectivamente primeiro e segundo herdeiros de Bolsonaro.
Marcelo conta ter sido testemunha de diversos golpes praticados por Ana Cristina, de quem o chefe do Executivo federal se separou em 2007. O presidente teria conhecimento de alguns desses supostos crimes. Entretanto, pressionado por Ana Cristina, teria sido conivente em diferentes momentos. Primeiro, durante a vida de casado – quando ela teria comandado, sob a anuência de Bolsonaro, o desvio de dinheiro dos gabinetes dos dois filhos parlamentares. Depois, durante o tumultuado divórcio do casal.
Em 2008, segundo Marcelo, a advogada, em meio à disputa pela guarda de Jair Renan Bolsonaro, teria simulado o furto de um cofre que o casal mantinha no Banco do Brasil, para acusar o presidente.
O furto ao cofre foi revelado em 2018 pelos repórteres Hugo Marques, Nonato Viegas e Thiago Bronzatto. Mas tudo não teria passado de uma mentira. Ana Cristina moveu uma ação em abril de 2008 na 1ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro acusando Bolsonaro de ter roubado os pertences no Banco do Brasil. Dentro do cofre, havia joias avaliadas em R$ 600 mil, US$ 30 mil em espécie e cerca de R$ 200 mil, também em dinheiro vivo – um montante que, calculado pelos repórteres para valores de 2018, valia cerca de R$ 1,6 milhão. Segundo Marcelo, foi a própria Ana Cristina quem esvaziou o cofre.
“Lá tinha joias e dinheiro. Ela entrou com um processo contra o Banco do Brasil, mas quando foi intimada, não foi. Ela viu que fez m… e nem apareceu. O processo ficou rolando. Ela que limpou o cofre, antes de decidir as coisas”, disse.
O falso furto do cofre foi registrado em 26 de outubro de 2007, na 5ª Delegacia da Polícia Civil do Rio de Janeiro, pela própria Ana Cristina, que já havia feito a queixa acusando Bolsonaro. Segundo o relato de Ana Cristina na delegacia, ela esteve na agência do Banco do Brasil e não conseguiu acessar o cofre com sua chave. Um chaveiro chamado pelo banco teria conseguido abri-lo, quando ela constatou que o cofre estava vazio. Dali, ela já teria ido até uma delegacia com o objetivo de acusar Bolsonaro.
Durante a investigação sobre quem seria responsável pelo furto ao cofre, Bolsonaro prestou depoimento no processo da guarda de Jair Renan em que acusava mulher de chantageá-lo. Ele afirmou que Ana Cristina tinha sequestrado o filho, levando-o para a Noruega, e condicionava o retorno do menino à devolução do dinheiro e das joias supostamente roubados do cofre.
Bolsonaro anexou esse depoimento com a acusação de sequestro ao inquérito do furto, e, a partir daí, a investigação nunca mais avançou na Polícia Civil do Rio. Ana Cristina foi chamada para depor, mas nunca compareceu, e o agora ex-casal chegou a um acordo. Jair Renan voltou para o Brasil, uma pensão foi acertada e o falso furto ficou em segundo plano.
De acordo com Marcelo, Bolsonaro pediu a separação porque descobriu que a então esposa o traía com seu segurança, o bombeiro militar Luiz Cláudio Teixeira, que fazia a escolta do clã no Rio de Janeiro. Foi ali que teria se rompido a confiança de Bolsonaro em Ana Cristina, e o presidente, então, teria autorizado que os filhos passassem a tocar eles mesmos o recolhimento dos valores desviados de salários de seus assessores parlamentares. Segundo o ex-empregado, o comando da rachadinha saía então das mãos de Ana Cristina e passava a ser de responsabilidade direta de Flávio e Carlos Bolsonaro.
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