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sexta-feira, 5 de março de 2021

Que consequências geopolíticas teria construção de cabo submarino entre China, Europa e África?

 


Um cabo de Internet conectará a China com países na África e na Europa por via aquática. Em um mundo cada vez mais virtual, o desenvolvimento de tal empreendimento pode ter consequências diretas na geopolítica mundial.

O cabo submarino chinês chamado Paz sairá no final deste ano por via terrestre da China, percorrendo o Paquistão, e se dirigindo ao fundo do mar por 13 mil quilômetros até chegar em Marselha, na França. A intenção por trás de toda engenharia é transportar dados e tornar serviços mais rápidos entre empresas chinesas e seus parceiros comerciais na Europa e na África, de acordo com a Bloomberg.

"Este é um plano para projetar energia além da China, em direção à Europa e à África", disse Jean-Luc Vuillemin, chefe de redes internacionais da Orange SA, companhia telefônica francesa que operará a estação de aterrissagem do cabo em Marselha, citado pela mídia.

O cabo está sendo construído pela Hengtong Optic-Electric Company, que tem a Huawei como sua terceira maior acionista.  

Mapa mostra as conexões do cabo Paz chinês, saindo do Paquistão e se conectando à África e à Europa
Mapa mostra as conexões do cabo Paz chinês, saindo do Paquistão e se conectando à África e à Europa

A França já estaria preparada para enfrentar pressões adicionais de Washington sobre o cabo da Paz, segundo a mídia. O presidente francês, Emmanuel Macron, não quer isolar a China da infraestrutura da Internet, em parte para que a França não tenha que "depender totalmente das decisões dos EUA", disse ele em uma entrevista no Conselho Atlântico em fevereiro, citado pela Bloomberg.

Não é de agora que os EUA vêm interpretando a infraestrutura virtual construída pela China como uma ameaça. No ano passado, o então secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, advertiu a comunidade internacional a "garantir que os cabos submarinos que conectam nosso país à Internet global não sejam subvertidos para coleta de inteligência por Pequim em hiperescala".

Em alguns momentos, Washington e seus aliados já bloquearam o caminho virtual da China. Em 2018, a Austrália destruiu um cabo da Huawei Marine Networks, que conectava as ilhas Salomão, Papua Nova Guiné e Sydney. Em 2020, uma parte de um cabo que seguia de Los Angeles a Hong Kong foi redirecionado depois que autoridades de segurança nacional dos EUA bloquearam os planos de uma conexão com o território que está sob controle chinês.

O fato é que EUA e China progressivamente escalão uma disputa para que um dos dois se consolide como protagonista mundial, se tornando a nova potência, no caso de Pequim, ou se firmando como tal, no caso de Washington. Em um mundo cada vez mais eletrônico e virtual, a soberania necessária para ter o comando nas mãos não depende somente do controle de territórios e mares, mas também, de quem detém o controle da Internet. Os novos investimentos chineses na área ajudam a desbancar o domínio norte-americano na rede e deixam a competição e as tensões entre os dois países ainda mais acirradas.

Segundo a especialista britânica em política cibernética, Emily Taylor, ver as tensões geopolíticas descerem para o fundo do mar influenciando a Internet mundial é lamentável.

"É realmente lamentável ver essa geopolítica descendo da pilha para as camadas físicas da Internet. O que todos nós teremos para chegar a um acordo com isso é: como tentarmos manter o máximo de portas abertas, sem nos expormos a ameaças à segurança nacional?" indagou a especialista citada pela mídia.

No atual panorama tecnológico global, os cabos submarinos têm uma importância estratégica significativa. Cerca de 400 deles transportam quase 98% do tráfego internacional de dados e telefonia da Internet em todo o mundo. Muitos pertencem e são operados por empresas norte-americanas.

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