Na estridente reforma ministerial desta segunda-feira (29), o presidente Jair Bolsonaro trocou seis de seus ministros. Justiça, Casa Civil, Advocacia-Geral da União, Defesa, Relações Exteriores e Secretaria de Governo. Por mais barulho que faça a queda de Ernesto Araújo ou a troca de figurinhas entre os ministros militares, a troca mais significativa aconteceu na Secretaria de Governo. A queda de Ernesto Araújo era natural depois das maluquices que destruíram a relação com a China, nosso maior parceiro comercial, inviabilizaram a compra de vacinas e transformaram o Brasil num pária internacional. Nas trocas envolvendo os militares, a palavra é fidelidade. Mais do que competência, ficou quem jurou bolsonarismo convicto.
Restou a Secretaria de Governo. O cargo não tem status de ministério nem nome pomposo, mas é fundamental para o presidente. O incumbente do posto é o responsável por fazer a articulação entre os ministérios e, principalmente, cuidar da relação com o Congresso e, claro, lotear as verbas parlamentares no Orçamento. Essa tarefa é uma missão para lá de delicada quando lembramos que os presidentes de Câmara e Senado já ameaçaram Bolsonaro com “remédios amargos” caso a condução da pandemia, a gestão econômica e a relação com outros poderes continuasse desastrosa.
Para cuidar dessa missão, Bolsonaro escolheu Flávia Arruda, deputada federal eleita em 2018 pelo PL de Valdemar Costa Neto, um dos artífices do mensalão, em 2005. Com isso, Bolsonaro capitula a mais um partido do Centrão – o PP tem a presidência da Câmara, o Republicanos lotou o Ministério da Cidadania e com a ascensão de Flávia à Secretaria de Governo, tenta atrair o PL. Até esta segunda-feira, Flávia ocupava o cargo de presidente da Comissão Mista do Orçamento, um dos cargos mais cobiçados da Câmara. Segundo parlamentares, ela teve condução “habilidosa” na construção do Orçamento e também é bastante próxima de Arthur Lira (PP), o presidente da Casa.
Flávia tem história política irrelevante até 2018. Foi primeira-dama do Distrito Federal entre 2007 e 2010. A então personal trainer foi catapultada ao mandato de deputada, sendo a deputada mais votada do DF com 121 mil votos, depois que o marido, José Roberto Arruda, foi condenado por inúmeros escândalos de corrupção e impedido de concorrer a cargos eletivos. Governador do DF entre 2007 e 2010, Arruda foi condenado pelo crime de falsidade ideológica em 2017. Segundo a sentença, Arruda forjou quatro recibos de R$ 90 mil cada, em valores da época, sendo condenado a 3 anos e 10 meses de prisão. Arruda disse que os recibos eram para comprar cestas natalinas para famílias carentes do DF – o escândalo ficou conhecido como “farra dos panetones”. Arruda foi gravado recebendo maços de dinheiro do presidente da Companhia de Desenvolvimento do Planalto, Durval Barbosa. (foto abaixo)
O então governador, José Roberto Arruda, recebendo propina em dinheiro vivo do presidente da Companhia de Dsenvolvimento do Planalto, Durval Barbosa
Arruda tem outra condenação, a sete anos de prisão, também decorrente das investigações da Operação Caixa de Pandora. Nessa segunda condenação, Arruda teria oferecido dinheiro para que um jornalista prestasse falso testemunho, de forma a absolvê-lo nas investigações do chamado “mensalão do DEM” – um esquema com empresas de informática, usado para comprar apoio parlamentar na Câmara Legislativa do DF, a assembleia legislativa local ainda em 2009. O esquema teria origem no governo anterior, de Joaquim Roriz, e abasteceu o bolso de deputados do DF nos anos 2000. Arruda teve prisão preventiva decretada, sendo o primeiro governador na história brasileira a ir para a cadeia. Em 2010, ele passaria por um processo de impeachment e seria cassado. O esquema de corrupção também envolvia Flávia – parte da propina arrecadada junto a empresários foi repassada a uma ONG presidida pela primeira-dama.
Ele também esteve envolvido num escândalo de propinas relacionado à construção dos estádios da Copa do Mundo de 2014. Na Operação Panatenaico, a PF apurou desvios de R$ 900 milhões na construção do Estádio Mané Garrincha – inicialmente orçado em R$ 600 milhões, custou R$ 1,57 bilhões. Arruda era um dos muitos que meteu a mão no montante superfaturado e acabou preso no dia 23 de maio de 2017. Mas o caso mais absurdo envolvendo José Roberto Arruda remonta ao longínquo 2001. Uma matéria da Revista IstoÉ revelou que Antônio Carlos Magalhães, então presidente do Senado, sabia como cada senador havia votado no processo de cassação de Luiz Estevão (PMDB). Foi Arruda quem pressionou a diretora de tecnologia da informação do Senado a revelar os votos. Ele renunciou ao cargo de senador para evitar a cassação.
A ascensão de Flávia a um dos postos mais relevantes do governo mostra como Bolsonaro entrega, a cada dia, um naco de carne ao Centrão. Mostra também como o governo Bolsonaro conseguiu ressuscitar legendas como o DEM, o PL e o PP. Em algum lugar, o espírito de ACM comemora.
Charles Nisz/DCM
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