Fabricantes de peças automotivas atraídos para Camaçari (BA) após instalação da Ford na região em 2001 serão diretamente impactadas pelo fechamento da empresa - Divulgação / Ford
Para representante do Dieese, Ford deixa o país não pelo “custo Brasil”, e sim pela instabilidade política e econômica
O fim da produção de veículos da Ford no Brasil agravará o índice de desemprego na Bahia, que está em 19,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região de Camaçari (BA), que abriga uma das unidades da Ford que fechou as portas, o impacto estimado é de 12 mil empregos diretos – três vezes maior que o número de trabalhadores da Ford no estado.
A projeção é do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, que prevê ao todo o fechamento de 60 mil vagas, diretas e indiretas, em cerca de 30 empresas. As outras unidades que serão fechadas pela Ford no país estão em Taubaté (SP) e Horizonte (CE).
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Com a instalação da montadora em 2001, Camaçari – que já era um polo petroquímico desde os anos 1970 – atraiu dezenas de fábricas de peças automotivas e serviços no seu entorno, que passou a ser chamado de Complexo Ford.
“A gente tem, por exemplo, indústria de plástico, a própria indústria que fornece os bancos para os carros, a Continental, fabricante de pneus”, detalha Ana Georgina, supervisora técnica regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Bahia. “É, na realidade, uma grande cadeia que vai ser afetada”, ressalta.
Georgina acrescenta que o impacto não será sentido apenas em Camaçari. “Vários trabalhadores da Ford moram em Salvador ou em outras cidades da região metropolitana”, acrescenta.
Aurino Pedreira, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, enfatiza que cerca de 30 empresas da região fornecem produtos e serviços exclusivamente para a Ford. “A montadora foi beneficiada com um conjunto de benefícios e isenções nos últimos 20 anos. O terreno foi dado, e fala-se em até R$ 43 bilhões em recursos destinados a ela. Então, não se justifica a saída dela”, diz. “É um descompromisso muito grande. Um anúncio de fechamento sem nenhum tipo de discussão”, questiona.
Pegos de surpresa
O sindicalista lembra que, recentemente, a empresa havia fechado um acordo para desenvolvimento de novos produtos nos próximos quatro anos. Ou seja, os trabalhadores de toda a cadeia produtiva foram pegos de surpresa.
Hoje, a Ford representa 5% de toda a indústria de transformação baiana, gerando 4,1% de todos os empregos industriais do estado. O governador Rui Costa (PT) abriu nesta terça-feira (12) negociações com federações de indústrias para debater o futuro do empreendimento e sinalizou que tentará buscar investimentos chineses para compensar as perdas, repor as vagas e manter a economia da região aquecida.
Contexto já era de desinvestimentos
A supervisora técnica do Dieese lembra que a Petrobras, um dos motores da geração de empregos no estado, adota uma política de desinvestimento desde 2017. “A saída da Ford se soma a esse contexto. No ano passado, saíram a Vale Manganês e a Bosch. Há uma verdadeira debandada, o que é dramático do ponto de vista da economia baiana”, completa.
"Custo Brasil"
Menos de 24 horas após o anúncio da Ford, entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) alertaram para o "custo Brasil" e pediram mais reformas para "melhorar o ambiente de negócios".
Em contraposição, Ana Georgina afirma que o principal motivo da saída da empresa do país não seria o "custo Brasil", e sim a instabilidade política e econômica do Brasil.
“Não é problema de insegurança jurídica, porque há uma série de isenções, tivemos a reforma trabalhista, que já foi muito dura e precarizou muito. Então, não faltam reformas, e a mão de obra no Brasil não é cara”, analisa.
“O problema é nossa política econômica, que não oferece saídas para a estagnação. Não temos uma política industrial, com estímulo ao investimento interno e externo, e a empresa aproveitou a queda nas vendas durante a pandemia para dar continuidade a sua estratégia global”, complementa.
Segundo a Ford, a alta do dólar foi um fator preponderante para a decisão.
Pedreira lembra que um dos argumentos para a aprovação da reforma trabalhista, durante o governo Michel Temer (MDB), era o estímulo à geração de empregos. De lá para cá, as estatísticas de desempregados no país só pioraram.
Assembleia da categoria
O Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari realizou, na manhã desta terça (12), uma assembleia com os trabalhadores em frente à unidade. A prioridade continua sendo a manutenção do funcionamento da fábrica. O passo seguinte é a criação de uma frente, junto ao município e ao estado, para resistir à decisão da empresa e impedir o fechamento.
Queda nas vendas
Em 2020, a montadora registrou queda de 39,2% nas vendas, quase 11 pontos percentuais acima da queda geral do setor automobilístico. Mesmo assim, a empresa anunciou um plano de investimento de cerca de US$ 580 milhões – o equivalente a R$ 3,2 bilhões – na Argentina até 2023, para produzir o novo modelo da caminhonete Ranger.
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Edição: Camila Maciel/Brasil de Fato
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