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sábado, 8 de agosto de 2020

Agredida pelo ex, atriz conta que vive com medo: 'Não tenho residência fixa'

Depois de mais de um ano e meio da condenação do ex-marido por violência doméstica, Cristiane Machado relata que ainda é perseguida



Em novembro de 2017, a atriz Cristiane Machado se casou com o empresário e ex-diplomata Sérgio Schiller Thompson-Flores. Um ano depois, em novembro de 2018, a atriz divulgou para a imprensa um vídeo em que o marido a agredia verbal e fisicamente, tentando sufocá-la com um fio de telefone -- e Sérgio foi preso por violência doméstica e tentativa de feminicídio. Hoje, faz um pouco mais de um ano e meio que o caso de Cristiane veio a público, e o Delas conversou com a atriz e jornalista. Ela revela sofrer com os impactos do estresse pós-traumático até hoje, relata ter desenvolvido anorexia e ter crises de ansiedade frequentemente, por conta da sensação de medo e perseguição constante. "Meu agressor ficou quase oito meses em um presídio em Bangu e saiu com uma medida cautelar, porque a prisão era preventiva. Ele usa uma tornozeleira eletrônica e está em prisão domiciliar. De finais de semana e feriados, ele tem que ficar em casa. Nos dias de semana, ele só pode sair para trabalhar", conta Cristiane.



A atriz foi uma das primeiras mulheres do Rio de Janeiro a ter acesso a um pager, que é conectado à tornozeleira do criminoso e apita se ele estiver próximo da vítima ou se tirar a tornozeleira. Segundo ela, desde que Sérgio saiu da prisão, o aparelho já foi acionado em torno de sete vezes. "Por conta desses avisos, eu vivo sob muita tensão. Todas as vezes que o aparelho me notificou eu comuniquei a Justiça, mas leva tempo até alguma coisa ser feita e, enquanto isso, a gente tem que se virar. Por isso não tenho residência fixa e todas as minhas bases são cercadas por câmeras", relata.

Violência continuada

Cristiane diz temer não apenas pela violência que já sofreu. Ela afirma que continua sendo perseguida na internet, com a criação de perfis falsos que fazem comentários negativos e injuriosos sobre ela. "Essas pessoas já foram identificadas, por isso eu sei que são pessoas ligadas a ele. É impressionante que a maioria são homens agressores que foram condenados pela Lei Maria da Penha."


Para a atriz, é muito importante ter noção do tipo de agressor que a mulher está lidando. "Um agressor com condições financeiras mais baixas, com menos acesso à cultura, é diferente de um agressor com estudo, dinheiro, influência, que também é branco e um ex-diplomata que entende de leis.”

“Eu continuo na luta e é muito díficil lidar com isso, porque eu me sinto desprotegida o tempo inteiro. A única força que eu tenho sou eu. Até porque quero proteger meus pais, meu pai é deficiente visual e minha mãe deficiente física e eles foram ameaçados de morte caso eu entregasse o Sérgio para a polícia”, continua.

Para a atriz e jornalista, que se tornou uma grande ativista no enfrentamento da violência doméstica, o que falta na justiça brasileira é mais agilidade para lidar com a violência que acontece após a denúncia. Segundo ela, as mulheres são incentivadas a denunciar, mas, depois que denunciam, não têm respaldo para continuarem se protegendo das violências que continuam acontecendo.

Além do pager, a vítima também usa o aplicativo Linha Direta da Polícia Militar do Rio de Janeiro e está em contato com o CEO para lançar uma funcionalidade no aplicativo que vai levar seu nome. A nova função está sendo idealizada para ajudar mulheres que foram violentadas a terem mais provas para apresentar à Justiça.

Vida profissional e financeira

“Ele também pratica uma violência material contra mim, para que eu não trabalhe. Ele usa perfis falsos para falarem mal de mim. As pessoas podem achar que aquilo é verdade e, até eu provar que não é, já perdi muito tempo e oportunidades, além do fruto do meu trabalho, que é a minha imagem”, fala a atriz.


Cristiane Machado está escrevendo um livro sobre violência contra mulheres, falando sobre outros casos e sobre sua própria trajetória, pois quer recuperar a vida e deixar de ser refém de ataques e boicotes. ”Para você ter uma ideia, eu fiz uma live sobre violência doméstica com algumas mulheres e elas foram intimidadas. Todo lugar que eu apareço, as pessoas que estão comigo são perseguidas. Justamente para que elas fiquem com medo de serem vistas comigo e, consequentemente, isso atrapalhe o meu sustento.”



Foto: Arquivo pessoal
Cristiane acredita ter a missão de usar sua voz para libertar outras mulheres que vivem situações parecidas com a dela. Diz que ainda tem muito medo, mas que também tem coragem para enfrentar todas as dificuldades. Para ela, é uma conquista ter conseguido que um ex-diplomata muito influente fosse condenado a três anos de prisão.


“Espero que a mulher que está passando pela agressão hoje tenha uma história diferente da minha e, consequentemente, a próxima, melhor ainda, para que esses casos sejam coibidos com mais agilidade. A gente teve um avanço muito grande com a Lei Maria da Penha, ou hoje meu agressor poderia estar nas ruas, completamente livre.” 

IG

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