OMS registrou 102 laboratórios no mundo desenvolvendo vacinas contra o novo coronavírus. Contudo, mesmo que várias se revelem eficazes, pode não ser suficiente para erradicar o vírus, adverte médico.
Nos cálculos da Organização Mundial da Saúde, divulgados em 28 de abril, já haveria um total de 102 laboratórios em todo o mundo focados no desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus SARS-CoV-2. Contudo, o número real poderia ultrapassar as duas centenas.
No entanto, Seth Berkley, médico epidemiologista, alerta em um artigo no New York Times para que a existência de uma vacina, mesmo eficaz, pode não ser suficiente para deter a pandemia.
Eficaz se for global e acessível
De fato, mesmo que uma vacina se mostre eficaz e comece a ser distribuída, é preciso assegurar a igualdade de acesso à mesma, defendeu Berkley, que também é diretor executivo da GAVI Alliance, uma organização internacional que promove o acesso à imunização em países pobres.
Berkley recordou o caso da gripe suína H1N1, que matou mais de 200 mil pessoas em todo o mundo em 2009.
Não se tendo revelado tão severa quanto uma gripe sazonal, para ela foi desenvolvida uma vacina eficaz. No entanto, só foi distribuída em países ricos, ficando o resto do mundo privado dela.
"É isso que está errado quando acordos de fabricação ou políticas internas de exportação em países produtores de vacinas impõem restrições à sua disponibilidade internacional", comentou Berkeley.
Berkley teme que um cenário semelhante possa se repetir com a pandemia do coronavírus, que já ceifou a vida a mais de 230.000 pessoas em todo o mundo. Neste caso, e novamente, apenas os países mais ricos poderiam adquirir vacinas suficientes para imunizar suas populações.
Pandemia fora de controle
A pandemia poderia assim ficar fora de controle em países que não têm condições de se provisionar com vacinas suficientes, tanto mais que seus sistemas de saúde são em regra mais fracos, tendo pouca capacidade de rastrear a disseminação do vírus.
"Estes países também têm uma capacidade limitada para pagar por vacinas, razão pela qual a organização que dirijo, a Gavi Vaccine Alliance, fornece subsídios a países para comprá-las", afirmou Berkeley.
Segundo o especialista, os líderes mundiais devem pensar de maneira global, e não nacional, as formas de combater a pandemia e garantir que todas as regiões do mundo tenham acesso à vacina.
Caso contrário, o coronavírus SARS-CoV-2 continuará a circular e a se disseminar.
Busca pela vacina
A fundação Coalizão para Acesso Igualitário à Vacina (CEPI, na sigla em inglês), lançada em 2017 para acelerar o desenvolvimento de vacinas contra doenças infecciosas emergentes, já financiou mais de nove projetos para desenvolver uma vacina contra o SARS-CoV-2, mas precisará ainda de mais US$ 2 bilhões (R$ 10,89 bilhões) para que pelo menos três desses candidatos consigam passar nos requisitos regulatórios e de qualidade e completem os testes de eficácia.
© AFP 2020 / RIJASOLO
Laboratório examinando testes da COVID-19 (foto de arquivo)
O mundo precisará então de assegurar os fundos necessários para garantir a capacidade de produção e poder dessa forma disponibilizar bilhões de doses para a população mundial durante os próximos 18 a 24 meses.
Sobre este ponto, a fundação está trabalhando para criar um mecanismo que garanta a igualdade de acesso à vacina.
Assegurar alcance global
Os ministros da Saúde de 20 países, juntamente com a presidente da Comissão Europeia e o diretor-geral da OMS, já se comprometeram a acelerar o desenvolvimento, a fabricação e a distribuição equitativa das vacinas.
"Só protegendo todos aqueles em situação de risco é que conseguiremos deter este surto e responder eficazmente a surtos futuros. Na corrida para desenvolver uma vacina contra o coronavírus, todos e em toda parte devem ser vencedores", concluiu Seth Berkley.
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