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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Desinformação, o mal do século

 



Giuliano Manfredini

A falta de conhecimento e, pior, o não querer buscar as informações que tornam um fato verídico, são os ingredientes perfeitos para criar notícias falsas, as já notórias e diabólicas “fake news”. Na era da comunicação, isso pode ser considerado o mal do século. Fui acusado recentemente de “censor” da cultura e de usar a polícia para intimidar supostos fãs e pesquisadores. Com o poder da palavra e da escrita, a pessoa, que se diz jornalista, não cumpriu o princípio básico da profissão: o de ouvir o outro lado.

Vou resgatar um pouco do ocorrido, para que entendam a história lamentável e fantasiosa. Foi enviado para a Legião Urbana Produções um e-mail de Ana Paula Ülrich que na ocasião se apresentou como representante da agência de notícias Reuters e da Rede Globo, inclusive utilizando um e-mail com a extensão @reuters.com. Na correspondência eletrônica ela dizia possuir vários materiais inéditos, além de uma fita k-7 com composições nunca antes vistas de Renato Russo e exigia a autorização para poder divulgar a fita. E, arrematava, afirmando que a mesma já tinha sido registrada como direito da Reuters, uma das maiores agências de notícias do mundo. Tudo muito estranho.

De forma impositiva, Ana Paula queria forçar uma situação que não tinha nenhum cabimento. Vale lembrar que faz pouco, mais precisamente sete anos, assumi a direção da Legião Urbana Produções e passei a cuidar, preservar e divulgar o legado deixado por Renato Russo, meu pai, que nos deixou em 1996. De sua partida até 2013, outras pessoas tinham acesso ao material deixado por ele. O que não faltam são áudios, vídeos, manuscritos e até objetos pessoais dele espalhados por aí. A produção de meu pai, genial e irrequieto, foi exuberante, prolífica, imensa.

Mas vamos à lei: se apossar indevidamente de algo que não é seu e tentar obter vantagens com isso é crime! E se chama estelionato! E foi o que a invisível Ana Paula Ülrich tentava fazer por meio de seus e-mails. Além de afirmar ter em sua posse uma fita que foi retirada do apartamento do meu pai (algo que não poderia ter sido feito antes de eu obter a maior idade e assumir a herança), ela fez chantagens (dizendo ser da Reuters e da Rede Globo), assume ter ocultado um objeto roubado (a fita K7 fazia parte do acervo de Renato Russo) e achacou, quando tentou forçar a autorização da divulgação. Vários elementos que são suficientes para entender que as ações de Ana Paula (ou, mais precisamente, de quem se passa por esse ectoplasma internético) constituem-se em gravíssimo conjunto de crimes.

Percebendo que as coisas fugiam de meu controle, decidi denunciar o estelionato, extorsão e fraude à polícia, por meio da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial. O código de direito autoral no Brasil é recente, criado em 1998 e até hoje não é levado muito a sério. O não conhecimento de que há uma delegacia especializada contra crimes de ordem imaterial, patrimonial e pessoal faz com que muitas pessoas sejam lesadas, e, no meu caso, acusado injustamente de “usar a polícia” como instrumento particular, para atender interesses meus.

Isso é mentira. Desde quando defender direitos e denunciar criminosos é “usar a polícia”? Continuemos com a história de Ana Paula. O Facebook entregou às autoridades policiais os IPs das páginas na mídia social em que Ana Paula era administradora. Com isso foi descoberto que Ana Paula Ülrich não existia. Quem existe é Josivaldo Bezerra da Cruz Júnior, administrador do perfil falso, que se passava por Ana Paula e tentava achacar a Legião Urbana. Falsidade ideológica é outro crime intrínseco nesta trama lodosa. Trocando em miúdos: tudo configura um crime claro e indiscutível.

Por meio de perícias nos computadores de Josivaldo, nas conversas e interações com a suposta Ana Paula chegaram a outras pessoas que diziam também ter objetos inéditos da Legião Urbana. Longe de mim querer censurar ou impedir algum jornalista ou escritor  de pesquisarem, buscarem informações inéditas e executar com maestria o seu trabalho. Não tenho poder para isso. Ao contrário, sempre incentivei, colaborei e aplaudi. Porém, neste caso o que fizeram foi uma acusação falsa, mentirosa de quem realmente não me conhece. 

Desde que assumi a Legião Urbana Produções, além de ter recuperado financeiramente a empresa, tornando-a saudável e produtiva; promovi a contratação de funcionários e direta e indiretamente a empresa gera dezenas de postos de trabalho; em momentos de produção de shows, exposições e outros eventos, o número sobe para centenas. Dos trabalhos produzidos na minha gestão para dar acesso ao imenso acervo de Renato Russo a seus fãs, vale destacar: o concerto Renato Russo Sinfônico, a mega exposição Renato Russo no MIS (Museu da Imagem e do Som, que foi premiadíssima. Por minha iniciativa pessoal, o MIS inclusive catalogou milhares de peças do acervo de meu pai que estavam mofando num antigo apartamento e deleguei para profissionais capacitados para cuidar dele, consolidando assim a maior recuperação de acervo de um artista na história de nosso país. Já foram publicados três livros baseados nos diários de Renato Russo, dois filmes, peças de teatro, veiculação de obra em novela de horário nobre da Rede Globo e selo comemorativo dos Correios em homenagem a data de aniversário de Renato, dentre outras inúmeras homenagens que já produzi. E os projetos não param. Teremos novos livros, documentários, exposições, lançamentos e shows. Renato Russo vive.

Sou herdeiro de Renato Russo, meu pai – homem meticuloso e organizado - deixou tudo registrado e preparado para eu assumisse quando chegasse à maioridade. Não tenho tempo ou disposição para conflitos estéreis com quem quer que seja. Com absolutamente ninguém. Minha missão é de paz, meu caminho é de trabalho e construção. Preservo o legado de um gênio, um mito, meu inesquecível pai. Só peço que antes de saírem falando mentiras sobre mim, me procurem. Sou um homem de fácil acesso e bom trato. Respeito o trabalho da polícia, do ministério público e do judiciário. Espero que o trabalho em conjunto de tais organismos chegue de fato aos verdadeiros criminosos, as “Anas Paulas”, pois não creio que os crimes cometidos sejam obra apenas de um jovem aposentado por invalidez. Existem verdades inconvenientes e tramas secretas por trás de tudo isso.




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